Diante da Morte
As paredes da
cela estão sujas de sangue, sangue de meu corpo morto diante dela. Não sei em
que parte meu corpo dói mais. Queria estar morto. Estou morto? Sim, estou caído
ali, diante ela. Não, estou parado de pé diante meu corpo e ela. Quero matar
ela, mas como se já estou morto. Eu sou um homem de astúcia, nunca tive medo do
inesperado. Estou com medo agora. Não sei o que me espera. Procuro por alguma
coisa, não sei o quê. O vento sopra do leste, vem pelas barras da
jaula. O cheiro ruim continua a invadir minhas narinas mortas.
Lembrei-me das
flores. Eu amo as flores. Quanto tempo faz que não vejo uma flor? Desde que começou essa maldita guerra.
Enquanto os raios de sol iluminam o manto escuro com o desespero e a dor,
esconde assim o maravilhoso e belo, o mundo das flores e o de um sorriso.
Teatro, cinema e música, onde estão vocês? Riso, quanto tempo faz que não sorrio,
preso nessa maldita cela. Eu amo a poesia e os livros, sem eles não sou nada.
Sou mais um cadáver. É triste ter certeza que morri e nada mudou, ainda estou
vivo. Por que não acabou? Socorro, por favor, alguém me salve...
(Cláudia Elisabeth Ramos,
25/07/1987)
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