sábado, 29 de janeiro de 2022

Crônica

 

Série "Crônicas de Guerra"


O Elefante

 

      Uma grande tropa andava por uma rua, ao redor havia uma cidade em ruína. Eu ia ao lado do coronel Lander, do major Welt, dos capitães Koch e Jackson. Cercando os oficiais estava além de mim, Smith, Flores, Joshua e Gary (os mesmos que salvaram o capitão Jackson). Eu sabia que nossa obrigação era proteger os oficiais.
No meio do caminho havia um enorme elefante morto, bem no meio da rua. A tropa foi passando contornando o elefante. Enquanto passava dizia para Flores e Joshua:
– Coitado! Mais uma vítima inocente dessa guerra infernal.
– Você gosta de bicho, Irving, pelo que vejo – disse Joshua.
– Gosto, sim! Eles são verdadeiros, não como muitos homens que tem por aí.
– Você mataria um elefante? – perguntou Smith a distância para mim.
– Eu faria tudo para não matar, mas se me atacasse, eu mataria, sim.
Quando os oficiais e nós estávamos passando pelo bicho morto, muitos tiros vieram dele em direção dos oficiais. Nós cinco passamos atirar no corpo do elefante. Smith atirava com uma metralhadora, eu e Flores com nossos rifles. Joshua e Gary saltaram sobre os oficiais fazendo-os ficarem deitados no chão. Demos tantos tiros, que aos poucos foi abrindo a barriga do elefante, aparecendo as costelas e entre elas, dois japoneses mortos. Todos nós nos surpreendemos, eles estavam dentro do bicho morto, que já começava a feder.
Quando parou os tiros, fui verificar e vi que numa das cavidades havia dois furos, por onde eles atiravam. Tinha um terceiro buraco acima dos outros que acredito ser por onde eles olhavam.
Smith fez cara de nojo e disse:
– Como eles conseguiram ficar dentro de um bicho morto?
– Que nojentos – disse Gary, verificando se tinham realmente morrido.
– Você faria isso para atacar os japoneses? – perguntou Smith para Gary.
– Não sou louco.
– Aposto como o Irving faria. Não é, irlandês?
– Eu? Não, é nojento! – disse.
– Mas a outra vez você não hesitou em mexer em cadáveres podres – lembrou-se do que fiz para salvar um colega soterrado em meio a cadáveres.
– Mas ali tinham vidas em jogo – respondi sério.
Os oficiais se ergueram e seguimos caminhando.

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