Série "Crônicas de Guerra"
Monstro
Estava
dentro de uma trincheira junto com Flores. Estávamos encostados em meio à lama,
mas não estávamos em combate. O mexicano me contava:
–
Tive um sonho estranho essa noite. Sonhei que estávamos sendo atacados por
japoneses, mas eles não eram humanos. Eles eram monstros, tipo mortos-vivos.
Nós não conseguíamos matar aqueles monstros. E você estava no sonho, Irlandês!
– Eu?
E o que eu fazia? – perguntei curioso.
–
Você era um monstro morto-vivo como os japoneses! Todos nós lhe temíamos –
disse incluindo-se com nossos colegas. – Mas você era o único que conseguia
matar os monstros japoneses. E nós, apesar de lhe temer, tínhamos que ficar com
você para vencer os japoneses.
Entristeci
com aquele sonho do mexicano, principalmente por ter sido ele quem sonhara. Eu
o considerava meu melhor amigo. Controlei-me para não chorar e disse
desiludido:
– Até
mesmo você, mexicano, me vê como um monstro.
Ele
ficou preocupado com minha interpretação e negou:
– Não
é verdade! Sou seu amigo! E eu não tenho controle sobre os meus sonhos. Nem sei
de onde tirei a ideia de monstros!
Mas
eu sabia. Subconscientemente, ele comparou aos japoneses e a mim a monstros.
Tive certeza disso. Eu mesmo considerava os japoneses monstros. Eu era um
monstro que matava os outros monstros. Não falei mais nada, apenas fiquei
olhando para o nada, triste.
Flores
tocou no meu ombro e disse:
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