domingo, 12 de dezembro de 2021

Anatomia do espelho quebrado (Poesia)


Um manto sobre meu espelho
De modo que procuro o direito
A voz que conduz este medo
pelo semelhante jeito.

Descobrir a solidão
Ao destapar o meu caminho
Despertar o coração
Esquecer do carinho.

As vozes gritam na imagem
Demonstram as lutas de quem quis viver
Porém perdeu a coragem
E acabou por se destruir, morrer.

Doce luz amarga de minha vida
De ver no espelho o meu rosto
Não querer descer na subida
E notar que não há lugar para um morto.

Meus olhos castanhos esverdeados
Não mostram meu dolorido coração
Nem se pode imaginar o tamanho
Do que foi destruído junto a ilusão.

As mãos pequenas que tenho
São minha única forma de liberdade
Só por elas é que escrevo, esculpo e desenho
E mostro minha realidade.

O meu corpo rechochudo nesse espelho
Demonstra curvas volumosas nada escondidas
São talentos que ocupam esse corpo velho
Escondidos por muitas feridas.

Minhas pernas tortas
Ficaram assim de tanto andar
Os estalos dos passos sumiram
Restou apenas o som do arrastar.

O passar do tempo
É o que vejo no espelho quebrado
Embaciado e sujo
Por minha imagem rachado.

Divide minha figura
Em várias partes ao invés de me destruir
Multiplica-me em partes
Assustando-me por fluir.

Rachaduras são as feridas
Do íntimo fechado
Do meu ego esquecido
Num espelho quebrado.

(Cláudia Elisabeth Ramos)          



                                                             

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