sexta-feira, 8 de abril de 2022

Crônicas

   Série "Crônicas de Guerra"


Crueldade

 

Estava numa casa em ruínas, sozinho com um japonês ferido amarrado com as mãos para as costas e pés enrolados, deitado no chão. Havia uma bucha de pano enfiada na boca dele para não falar nem gritar. Eu passava a minha faca pelo rosto dele cortando-o de leve, sentindo prazer com o que fazia. Não era nenhuma tortura, eu fazia aquilo por fazer, como um modo de diversão macabra.

Foi então que num momento eu levei a faca ao olho direito do japonês e como a ponta da faca comecei a retirar o globo ocular dele. O soldado japonês debatia-se e eu não me importava que com isso cortasse mais ainda o rosto dele. Lembro-me que cortei sobre as pálpebras e puxei o globo. Veio uma tripa que unia com a parte interna da cavidade e eu cortei. Depois peguei o globo ocular que havia arrancado e fiquei olhando, enquanto ouvia os gemidos do japonês. Larguei o globo ocular no chão e voltei a passar a faca pelo peito do japonês. Ergui a camisa da farda dele e deixei a barriga dele desnuda. Tinha um ferimento um pouco acima, perto do peito. Levei a faca ao ventre dele. Ele tinha um abdômen bem musculoso e sarado. Quando estava com a faca no abdômen, cheguei nele e finquei a faca pela metade. Dei mais três fincadas, formando assim com desenho de um quadrado. O Japonês urrou mais uma vez e eu não me importei.

De repente, ouvi o ruído de alguém se aproximado. Tinha uns trapos marrons perto e eu rapidamente cobri o corpo do soldado inimigo para que não o vissem. Logo vi que quem se aproximava era o coronel Lander. Eu me endireitei, ficando sentado no chão, ao lado de minha vítima, tentando esconder o japonês com meu corpo. O coronel parou a minha frente.

– O que está fazendo aqui sozinho?

– Nada, só estou descansando – menti.

– Sozinho? – repetiu, estranhando.

– Sim! – disse sério.

O coronel sugeriu:

– Acho melhor que volte para junto dos outros!

– Está bem! Só vou ficar mais um pouco e já vou.

O coronel virou-se de costa e foi saindo e eu fiquei esperando-o sair. Queria voltar a fazer o que estava fazendo. Mas foi então que o ferido gemeu alto, se mexendo, tentando soltar-se. Eu chutei o japonês que grunhiu ainda mais. O coronel parou e voltou-se para mim, olhando-me, bem como o pano verde oliva que cobria o japonês. Nesse instante o japonês se moveu e eu não gostei daquilo, pois o coronel ia descobrir que havia alguém embaixo do pano e consequentemente o que eu estava fazendo.

Como eu imaginei, o coronel foi direto ao pano e levantou-o, encontrando o japonês mutilado, sem um olho e sangrando. Ele me olhou e eu olhei-o sério.

– O que está fazendo com esse japonês? – perguntou o coronel furioso.

Eu não respondi e ele sacou o próprio revólver para matá-lo, apontou, ficou um tempo apontando, depois guardou a arma. Ordenou-me:

– Mate-o com a faca. Se eu atirar, os outros ouvirão os tiros e virão aqui para ver o que aconteceu. Se eles virem o que está fazendo, terão mais motivos de não gostarem de você. – E ordenou sério: – Vamos, mate-o logo!

Eu ia esfaqueá-lo no peito, quando mudei de ideia e passei a faca na garganta. Ainda fiquei um tempo parado olhando o sangue esguichando pelo corte. Em seguida ele morreu.

Como não me mexi, o coronel gritou furioso:

– Vamos, Irving, ande! Saia daqui de uma vez.

Eu levantei-me e fui saindo da casa. O coronel veio atrás. Segui andando, estava perto do acampamento. Fui acompanhado pelo coronel até Johnson e Flores. Sentei no meio dos dois, numa caixa de munição. O coronel ainda ficou me olhando sério e depois saiu dali, afastando-se.

Johnson olhou-me e perguntou:

– Onde você estava, irlandês?

– Dentro da casa – respondi.

Ele ficou um tempo em silêncio me olhando, depois voltou a perguntar:

– O que aconteceu? Você está estranho – riu. – Está com uma cara de paranoico! Seus olhos estão vidrados.

Eu não respondi, apenas o olhei sério.

Nenhum comentário:

Postar um comentário