Série "Crônicas de Guerra"
Crueldade
Estava
numa casa em ruínas, sozinho com um japonês ferido amarrado com as mãos para as
costas e pés enrolados, deitado no chão. Havia uma bucha de pano enfiada na
boca dele para não falar nem gritar. Eu passava a minha faca pelo rosto dele
cortando-o de leve, sentindo prazer com o que fazia. Não era nenhuma tortura,
eu fazia aquilo por fazer, como um modo de diversão macabra.
Foi
então que num momento eu levei a faca ao olho direito do japonês e como a ponta
da faca comecei a retirar o globo ocular dele. O soldado japonês debatia-se e
eu não me importava que com isso cortasse mais ainda o rosto dele. Lembro-me
que cortei sobre as pálpebras e puxei o globo. Veio uma tripa que unia com a
parte interna da cavidade e eu cortei. Depois peguei o globo ocular que havia
arrancado e fiquei olhando, enquanto ouvia os gemidos do japonês. Larguei o
globo ocular no chão e voltei a passar a faca pelo peito do japonês. Ergui a
camisa da farda dele e deixei a barriga dele desnuda. Tinha um ferimento um
pouco acima, perto do peito. Levei a faca ao ventre dele. Ele tinha um abdômen
bem musculoso e sarado. Quando estava com a faca no abdômen, cheguei nele e
finquei a faca pela metade. Dei mais três fincadas, formando assim com desenho
de um quadrado. O Japonês urrou mais uma vez e eu não me importei.
De repente,
ouvi o ruído de alguém se aproximado. Tinha uns trapos marrons perto e eu
rapidamente cobri o corpo do soldado inimigo para que não o vissem. Logo vi que
quem se aproximava era o coronel Lander. Eu me endireitei, ficando sentado no
chão, ao lado de minha vítima, tentando esconder o japonês com meu corpo. O
coronel parou a minha frente.
– O
que está fazendo aqui sozinho?
–
Nada, só estou descansando – menti.
–
Sozinho? – repetiu, estranhando.
–
Sim! – disse sério.
O
coronel sugeriu:
–
Acho melhor que volte para junto dos outros!
–
Está bem! Só vou ficar mais um pouco e já vou.
O
coronel virou-se de costa e foi saindo e eu fiquei esperando-o sair. Queria
voltar a fazer o que estava fazendo. Mas foi então que o ferido gemeu alto, se
mexendo, tentando soltar-se. Eu chutei o japonês que grunhiu ainda mais. O
coronel parou e voltou-se para mim, olhando-me, bem como o pano verde oliva que
cobria o japonês. Nesse instante o japonês se moveu e eu não gostei daquilo,
pois o coronel ia descobrir que havia alguém embaixo do pano e consequentemente
o que eu estava fazendo.
Como
eu imaginei, o coronel foi direto ao pano e levantou-o, encontrando o japonês
mutilado, sem um olho e sangrando. Ele me olhou e eu olhei-o sério.
– O
que está fazendo com esse japonês? – perguntou o coronel furioso.
Eu
não respondi e ele sacou o próprio revólver para matá-lo, apontou, ficou um
tempo apontando, depois guardou a arma. Ordenou-me:
–
Mate-o com a faca. Se eu atirar, os outros ouvirão os tiros e virão aqui para
ver o que aconteceu. Se eles virem o que está fazendo, terão mais motivos de
não gostarem de você. – E ordenou sério: – Vamos, mate-o logo!
Eu
ia esfaqueá-lo no peito, quando mudei de ideia e passei a faca na garganta.
Ainda fiquei um tempo parado olhando o sangue esguichando pelo corte. Em
seguida ele morreu.
Como
não me mexi, o coronel gritou furioso:
–
Vamos, Irving, ande! Saia daqui de uma vez.
Eu
levantei-me e fui saindo da casa. O coronel veio atrás. Segui andando, estava
perto do acampamento. Fui acompanhado pelo coronel até Johnson e Flores. Sentei
no meio dos dois, numa caixa de munição. O coronel ainda ficou me olhando sério
e depois saiu dali, afastando-se.
Johnson
olhou-me e perguntou:
–
Onde você estava, irlandês?
–
Dentro da casa – respondi.
Ele
ficou um tempo em silêncio me olhando, depois voltou a perguntar:
– O
que aconteceu? Você está estranho – riu. – Está com uma cara de paranoico! Seus
olhos estão vidrados.
Eu
não respondi, apenas o olhei sério.
Nenhum comentário:
Postar um comentário