O Resgate
Olhava
firmemente o espelho. Olhava sua imagem? A si mesmo? Ou a moldura? Quem sabe?
Estava ali estagnado sem mover os olhos, estes brilhantes. Os olhos pareciam
lançar algum sentimento profundo. Sentimento? Era forte e destruidor... Era
amor.
– Vá pro quarto
e pare com isso – disse uma voz do outro lado da porta.
E
ele retirou-se obedientemente. Deitou-se na cama. Mergulhou de ponta em seus
sonhos... Nossa, foi tão de repente que essa ponta quase quebrou. Quase quebrou
seus sonhos e ideais. Iria destruir seus jogos de poder. Mas, ainda bem, foi
quase. E no sonho, misturou-se em uma aventura, donde seu dever era resgatar o
seu coração de ouro roubado por um homem atrevido e danado. Ele tinha a mania
de flechar o coração dos outros, em seguida arrebentar a cordinha da razão e
fugir com o coração dos outros. Levava-os a um local desconhecido.
Na
missão, sabia que todos que foram atrás dos corações roubados nunca mais voltaram
a ser como antes. Tinha medo. Era loucura seguir corações. Mas ergueu a cabeça
e foi, Enfrentou tormentas, lutou contra dragões, exércitos desconhecidos,
barreiras, até encontrar aquele homem. Empunhando uma espada tirada da alma,
encurralou-o em um canto e obrigou-o a dizer onde estava seu coração. Ele disse
que tinha dado ele a quem merecia. E ele perguntou onde estava esse que se
apoderou de seu coração. O ladrão disse e ele foi.
Achou
a pessoa vagando no nada. Ela era bela e muito parecida com si mesmo. Exigiu o
coração e quando esse retirou a corrente com o coração para devolvê-lo a ele, o
coração caiu no chão. Ao cair, o coração de ouro quebrou-se em mil pedaços.
E
ele quase morreu em desespero. Que regate foi aquele? Nada foi resgatado.
Perdeu seu coração para sempre, destroçado diante a imensa dor do desprezo, da
saudade, da desilusão.
E
ele acordou... E agora? Chorou... chorou... na cama deitado... Lembrou-se do
espelho. Ainda havia ele. Levantou-se e voltou até ele. E voltou a olhá-lo
firmemente com amor.