quarta-feira, 16 de maio de 2018

O Resgate (crônica)




O Resgate


              Olhava firmemente o espelho. Olhava sua imagem? A si mesmo? Ou a moldura? Quem sabe? Estava ali estagnado sem mover os olhos, estes brilhantes. Os olhos pareciam lançar algum sentimento profundo. Sentimento? Era forte e destruidor... Era amor.
     – Vá pro quarto e pare com isso – disse uma voz do outro lado da porta.
                E ele retirou-se obedientemente. Deitou-se na cama. Mergulhou de ponta em seus sonhos... Nossa, foi tão de repente que essa ponta quase quebrou. Quase quebrou seus sonhos e ideais. Iria destruir seus jogos de poder. Mas, ainda bem, foi quase. E no sonho, misturou-se em uma aventura, donde seu dever era resgatar o seu coração de ouro roubado por um homem atrevido e danado. Ele tinha a mania de flechar o coração dos outros, em seguida arrebentar a cordinha da razão e fugir com o coração dos outros. Levava-os a um local desconhecido.
                Na missão, sabia que todos que foram atrás dos corações roubados nunca mais voltaram a ser como antes. Tinha medo. Era loucura seguir corações. Mas ergueu a cabeça e foi, Enfrentou tormentas, lutou contra dragões, exércitos desconhecidos, barreiras, até encontrar aquele homem. Empunhando uma espada tirada da alma, encurralou-o em um canto e obrigou-o a dizer onde estava seu coração. Ele disse que tinha dado ele a quem merecia. E ele perguntou onde estava esse que se apoderou de seu coração. O ladrão disse e ele foi.
                Achou a pessoa vagando no nada. Ela era bela e muito parecida com si mesmo. Exigiu o coração e quando esse retirou a corrente com o coração para devolvê-lo a ele, o coração caiu no chão. Ao cair, o coração de ouro quebrou-se em mil pedaços.
                E ele quase morreu em desespero. Que regate foi aquele? Nada foi resgatado. Perdeu seu coração para sempre, destroçado diante a imensa dor do desprezo, da saudade, da desilusão.
                E ele acordou... E agora? Chorou... chorou... na cama deitado... Lembrou-se do espelho. Ainda havia ele. Levantou-se e voltou até ele. E voltou a olhá-lo firmemente com amor.