quinta-feira, 30 de março de 2023

Crônicas

   Série "Crônicas de Guerra"

O Búnquer

 

Estava com nossos colegas agrupados com outros militares aliados ao ar livre. Se não me engano eram ingleses e australianos. Sabia que todos estavam conosco graças a um resgate feito por nós. Encontramo-los num campo de prisioneiros. O coronel Lander estava reunido com outros oficiais aliados. Um coronel inglês, Stark, e um major australiano, Phillips. O coronel Stark era branco, muito magro, com uma calvície marcante, olhos verdes e cabelos castanhos claros. O major Phillips também era branco, tinha os cabelos louros e os olhos azuis. Faziam planos, colocando um mapa sobre uma grande pedra. Falavam muitas coisas.

E eu estava junto com Flores e Johnson, descansando, sentado numa pedra; mas olhava a uma pequena distância os oficiais. Prestava atenção neles. Eles falavam sobre dominar um búnquer*, que havia mais a frente. O coronel inglês Stark falava:

– Vamos enviar uma força especial até lá, dominá-lo e depois o resto da tropa segue.

– Tem que ser nossos melhores homens – dizia o major australiano Phillips.

– Acho que devemos mandar seis homens: dois ingleses, dois americanos, dois australianos...

E os três oficiais concordaram. E o coronel Lander disse:

– Vou selecionar meus homens.

Afastou-se deles, vindo em nossa direção, enquanto os outros oficiais iam para as suas tropas. O coronel veio exatamente em minha direção e ordenou-me:

– Venha comigo, Sargento.

Depois foi para mais a frente, a procura de mais alguém. Eu o segui pensativo. Havia ouvido que eles mandariam os melhores homens e se o coronel me chamara, considerava-me um dos melhores realmente.

Logo ele parou a frente de Smith e ordenou:

– Smith, venha conosco!

Obs.: o coronel selecionou logo os mais cruéis da tropa – Smith e eu. Talvez na guerra, os melhores sejam os mais cruéis.

O coronel Lander voltou para diante da pedra com nós dois juntos. Já estava lá o major australiano Phillips com dois homens também. Ficamos parados um tempo até chegar o coronel inglês Stark, com também outros dois homens.

Os oficiais começaram explicar várias coisas, sendo que a maior parte era o coronel inglês que dizia. Foram várias coisas sobre o búnquer que não saberei contar aqui. Em resumo, eles queriam que nós chegássemos ao búnquer silenciosamente e o dominasse. Queriam que nós evitássemos dar tiros e não fizesse os japoneses atirar. Precisavam que aquele búnquer fosse dominado sem alertar aos outros. Segundo eles, havia uma tropa inimiga bem perto e queriam que eles só nos notassem quando já estivéssemos atacando com as tropas deles.

– O tenente Jenkees vai liderar o grupo de vocês – disse o coronel Stark, apresentando-nos um oficial inglês. Ele era branco, de olhos castanhos e cabelos castanhos claros.

E fomos apresentados entre nós. O outro inglês era também o sargento Manson, louro de olhos azuis. O Sargento Coinman era um dos australianos. Ele era branco, de cabelos e olhos castanhos. O outro era o sargento Barr, ele tinha os cabelos louros e os olhos verdes. O menos graduado era Smith, que era soldado. Eu já era sargento. Ninguém era simpático, todos eram sérios e tinham um semblante malvado no rosto. É bem provável que até eu mesmo tivesse.

Seguimos para cumprir a missão afastando-nos da tropa por uma trilha subindo um morro. Ela era cheio de pedras em meio a grandes árvores. Andamos algum tempo até podermos avistar no alto do morro uma construção de concreto escondida, toda camuflada. Eu sabia que aquilo era o búnquer. Fomos rodeando-o, espalhados. Fui o primeiro a chegar à entrada abaixo dele. Havia um soldado japonês andando de um lado para o outro de guarda, no lado de fora. Eu cuidei para não ser visto, escondendo-me nos arbustos e saltei sobre ele. Esfaqueei-o nos rins, tapando a boca dele para não gritar. Ele logo caiu morto e parei na entrada esperando os outros chegarem. Eles logo chegaram atrás. O tenente inglês sinalizou para eu seguir a frente. E fui.

Logo no corredor eu podia ver um soldado japonês que vinha em nossa direção. Escondi-me atrás de uma parede, esperando-o. Quando ele passou por mim, saltei sobre o japonês e passei a minha faca na garganta dele. O tenente Jenkees ainda foi aparando-o enquanto ele caía morto. Segui em frente. Andei pelo corredor sem encontrar ninguém mais. Deparamo-nos com uma entrada de uma escadaria de ferro que subia em espiral. O tenente sinalizou para eu subir. Subi a escada estreita e íngreme entre um espaço de cerca de um metro. Eles vieram atrás. Chegando ao topo, espiei e vi que havia três japoneses ali.

Sinalizei para os outros que vinham atrás, dizendo por sinais quantos eram, e o tenente sinalizou para abrir espaço para ele. Comprimi-me na escada e ficamos três amontoados, sendo o tenente Jenkees, o sargento Manson e eu. Obs.: os três britânicos, afinal, eu era irlandês. Quando um dos japoneses aproximou-se e ficou de costas para nós, conversando algo com seus companheiros, ergui-me e saltei sobre ele. Enquanto isso, o tenente e o sargento inglês saltavam sobre os outros dois. Eu cortei a garganta do japonês rapidamente e vi ainda o mais afastado sacar o revólver para atirar no sargento inglês que tentava pegá-lo.

Como tínhamos que ser silenciosos, peguei a mesma faca que trazia em mãos e joguei-a em direção daquele japonês e atingiu-o no pescoço, de frente. Ele ainda tentou segurar o pescoço, largando a arma no chão, mas caiu morto. Olhei para o lado e o tenente tinha matado esfaqueado o outro. Tínhamos conseguido.

Smith chegou ao meu lado e reclamou sussurrando:

– Tinha que matar a maioria deles, sargento?! Não deixou nenhum para mim.

O tenente também me criticou, dizendo em sussurro:

– Era um trabalho de equipe. Se era para um matar todos, teriam mandado um só homem.

Não disse nada, mas senti-me injuriado. Pensei que, se não fosse eu, teria ocorrido um tiro e todo o nosso plano teria ido por água abaixo. Entretanto, eles não estavam errados. Eu realmente tinha matado a maioria dali. Somente o tenente havia matado um. Eu acabara com quatro japoneses.

O tenente Jenkees pegou um rifle e colocou-o encostado na janela. Ela era estreita e longa, própria para se atirar por ela. No cabo do rifle, pendurou um pano verde escuro. Nós sabíamos que esse era o sinal que as tropas precisavam para avançar. Eles veriam através de binóculos.

O tenente ordenou a mim e a Smith:

– Vocês dois, olhem sala por sala do Búnquer. Averiguem se há mais alguém. – Voltou-se aos dois australianos e ordenou: – Vão junto e dividam-se.

Nós quatro descemos as escadas e voltamos aos corredores. Eu e Smith fomos por um lado, ainda em silêncio, e os australianos para o outro. Passamos primeiro por uma sala cheia de armamento. Seguindo mais adiante, chegamos numa que logo ao abrirmos saiu um cheiro de bicho morto. Dentro dela havia quatro corpos de asiáticos civis, duas mulheres e dois homens, empilhados. Eles já estavam apodrecendo. Bem acima estava o corpo de um dos homens. Ele estava com os dedos das mãos cortados, totalmente espancado e nitidamente tinha sofrido torturas.

– Por que torturariam e matariam civis? – perguntou Smith e eu apenas sacudi a cabeça, sinalizado que não sabia.

Smith separou-se de mim e foi numa última sala sozinho. Eu fiquei olhando os corpos, chamando-me atenção que as duas mulheres estavam com as saias rasgadas, sem calcinhas e aparecendo as genitálias. Elas estavam sangrando e feridas, provando que elas tinham sido estupradas. Voltei a olhar para onde Smith tinha ido e ele voltava.

– Era uma cozinha – disse ele.

Voltei para o outro lado e estavam os dois australianos. Eles se aproximaram.

– Não encontramos ninguém – disse Coinman.

Olharam para dentro da sala e Barr questionou o mesmo que Smith:

– Por que fizeram isso com civis?

Ninguém respondeu. E saí dali e voltei para a entrada das escadas.

 

(Búnquer - Abrigo subterrâneo fortificado e/ou blindado, com grande armamento, construído para dar abrigo em situações de guerra, protegendo aqueles que se abrigam de projéteis.)

quarta-feira, 15 de março de 2023

Poesia

 Pelos que choram


Pelos que choram
Pela fome,
Pelo cansaço,
Pelo medo,
Pelo aço...

           Pelos que choram,
           Pela guerra,
           Pela Vida,
           Pela Terra,
           Por uma saída...

                      Pelos que choram,
                      Pelo velho,
                      Pelo moço,
                      Pelas lágrimas
                      Pelo povo...

                                 Pelos que choram,
                                 Pelo vento
                                 Pelo mar,
                                 Pelo lamento
                                 Ou, talvez, por amar...

                                            Pelos que choram
                                            A cada instante
                                            Por cada glória
                                            De um verso cantado
                                            Por um momento distante
                                            Por estar chorando...


Cláudia Elisabeth Ramos