Série "Crônicas de Guerra"
O Elefante
Uma
grande tropa andava por uma rua, ao redor havia uma cidade em ruína. Eu ia ao
lado do coronel Lander, do major Welt, dos capitães Koch e Jackson. Cercando os
oficiais estava além de mim, Smith, Flores, Joshua e Gary (os
mesmos que salvaram o capitão Jackson). Eu sabia que nossa obrigação era proteger os oficiais.
No
meio do caminho havia um enorme elefante morto, bem no meio da rua. A tropa foi
passando contornando o elefante. Enquanto passava dizia para Flores e Joshua:
–
Coitado! Mais uma vítima inocente dessa guerra infernal.
–
Você gosta de bicho, Irving, pelo que vejo – disse Joshua.
–
Gosto, sim! Eles são verdadeiros, não como muitos homens que tem por aí.
–
Você mataria um elefante? – perguntou Smith a distância para mim.
– Eu
faria tudo para não matar, mas se me atacasse, eu mataria, sim.
Quando
os oficiais e nós estávamos passando pelo bicho morto, muitos tiros vieram dele
em direção dos oficiais. Nós cinco passamos atirar no corpo do elefante. Smith
atirava com uma metralhadora, eu e Flores com nossos rifles. Joshua e Gary
saltaram sobre os oficiais fazendo-os ficarem deitados no chão. Demos tantos
tiros, que aos poucos foi abrindo a barriga do elefante, aparecendo as costelas
e entre elas, dois japoneses mortos. Todos nós nos surpreendemos, eles estavam
dentro do bicho morto, que já começava a feder.
Quando
parou os tiros, fui verificar e vi que numa das cavidades havia dois furos, por
onde eles atiravam. Tinha um terceiro buraco acima dos outros que acredito ser
por onde eles olhavam.
Smith
fez cara de nojo e disse:
–
Como eles conseguiram ficar dentro de um bicho morto?
–
Que nojentos – disse Gary, verificando se tinham realmente morrido.
–
Você faria isso para atacar os japoneses? – perguntou Smith para Gary.
–
Não sou louco.
–
Aposto como o Irving faria. Não é, irlandês?
–
Eu? Não, é nojento! – disse.
–
Mas a outra vez você não hesitou em mexer em cadáveres podres – lembrou-se do
que fiz para salvar um colega soterrado em meio a cadáveres.
–
Mas ali tinham vidas em jogo – respondi sério.
Os
oficiais se ergueram e seguimos caminhando.