Comunicação e o Poder – Palavra de criança
Moro em uma
casinha do BNH. Não sei muito bem o que significa esse nome, mas sei que o
homem da televisão falou que havia sido extinto. Mesmo assim, papai vive
reclamando do preço de nossa casa. Não me importo muito com isso, passo o dia
vendo televisão quando não estou na escola. Mamãe fica zangada e diz que gasto
muita luz. Manda-me ler “Gibi”. Até que é bom. Principalmente os da Disney, os
daquele cara que fez a Disneylândia. À vezes brinco disso. Pego os meus heróis
da TV e dos “Gibis” e brinco. Sou o Milionário excêntrico: o “Tio Patinhas”.
Moro numa imensa caixa forte e não dou um tostão a ninguém. Também gosto de ser
o He-man, mas daí eu prefiro brincar com os brinquedos da “Estrela”, do He-man
e de sua turma. Eu ganhei eles no natal depois de ter passado de o ano na
escola.
A mana não
gosta de brincar, gosta muito de ler a revista “Júlia” e a “Love Story”. Não
perde a “Horóscopo Capricho”.
Mamãe gosta da
“Casa Cláudia” e da “Contigo”. E papai , não sei direito, acho que não gosta de
ler revista. Vejo ele só lendo jornal. Todos os dias consegue o jornal do
vizinho emprestado e lê, até na TV ele não perde um “Jornal Nacional”.
O mano mais
velho desapareceu, foi ser como aquele moço da “rádio novela” que foi preso.
Ele vivia com muitas “Gatas”, lia muito aquela revista de mulher pelada, a
“Playboy”. Se drogou, não sei o que é isso, porém na TV diz para nós dizermos
“DROGA NÃO”. Deve ser algo muito ruim. Papai o chamou de preguiçoso. Disse que
ele virou um “marginal”. Eu o vi estes dia com um cartaz nas mãos fazendo
protesto, reclamando sobre uma coisa. Que
guri besta, mesmo! Eu sei que ele está louco para tomar uma limonada e
deixar tudo ali como está, eu vi no desenho da TV quando o Pato Donald fez o
mesmo.
Papai acha que
tudo que é greve é ilegal. Disse que no “Jornal Nacional” que quem está fazendo
greve está reclamando de “barriga cheia”. Tinham um ótimo salário e trabalhavam
pouco. Papai trabalha muito mais e ganha menos e, mesmo assim, não faz greve.
A mana vive
cantarolando aquelas músicas das rádios e imitando aquelas palavras estranhas.
É “uer guede chi ui” e não sei o que Maísa. A mana me ensina como falar “Eu te
amo” naquela língua, inglês: “Ai love iu”. Não sei como se escreve, mas é
parecido com isso aí.
A mana não
pode ver um comercial que quer comprar. É de tudo, principalmente roupas. Às
vezes ela fica tão estranha com aquelas roupas, mas diz: “É a última moda!”
Falando nisso, eu gostaria mesmo é de morar em uma daquelas casas da “Novela
das Oito” ou dos “filmes da TV”. São grandes, as pessoas chegam em casa
despreocupados, tomam drinks, comem o
que querem e compram as mais malucas e geniais coisas. Papai disse que isso é privilégio
dos ricos. Eles têm esse direito. Eles trabalharam e estudaram.
Sabe, a minha
prima foi para os Estados Unidos, a mãe dela ganha um dinheirão. E ela não
estudou e disse que ficou rica. Mamãe disse que ela trabalha muito sendo “empregada
doméstica” e que não está feliz, não! Mas a minha prima não reclamou nada,
ganhou toda a coleção da “Barbie”. Deve ser um “barato”.
Meu pai disse
que os Estados Unidos são nossos amigos, eles ajudam ao Brasil. Isso com
empréstimos de dinheiro. Não sei por que então o Roberto, o nosso vizinho,
odeia os Estados Unidos. Chama-o de explorador. Não compreendo mesmo, se até na
televisão, em jornais e em filmes são sempre o herói. O seu Roberto deveria ser
preso, é o que diz papai. Ele é inimigo da Paz Social e Anarquista. Fala mal
dos Meios de Comunicação, dizendo que está nas mãos do governo e que estes
controlam o povo. Papai diz:
– Que
besteira!
(Trabalho feito por Cláudia Elisabeth Ramos
durante o Curso
de Jornalismo onde foi analisado
o livro “Comunicação e Poder” de Pedrinho
Guareschi
– na cadeira Sistemas Internacionais
de Comunicação, prof. Roberto
Ramos.)