domingo, 31 de dezembro de 2023
quinta-feira, 7 de dezembro de 2023
quarta-feira, 22 de novembro de 2023
Crônicas
Série "Crônicas de Guerra"
Bebedeira
Era
noite e eu estava amarrado por um arame farpado a um poste de uma cerca. Estava
com uma mordaça na minha boca, feita por um trapo velho. Tinha um arame farpado
que me sufocava enrolado a minha garganta ao moerão. Com o canto do olho vi meu
amigo Johnson. Johnson era um soldado como eu afrodescendente, forte, alto e
bonito. Ele estava como eu, enrolado com o arame farpado no outro poste da
cerca. Tanto eu quanto ele estávamos espancados.
A cerca
ao qual estávamos presos era à beira de uma estrada de areão. Vi passando pela
estrada a nossa frente nossos colegas Flores, Hart e Brian. Hart era branco de
cabelos castanhos e olhos verdes, seu nome é fictício. E Brian era branco, de
cabelos e olhos castanhos. Seu nome também é fictício. Os três iam passando sem
nos verem. Eu desejava gritar pedindo socorro, mas não tinha como. Fiquei
torcendo em pensamento para que um deles olhasse na nossa direção. E quem fez
isso foi o mexicano. Ele olhou para nós sem acreditar no que via.
– O
que é isso? – perguntou ele para os outros dois.
Hart
e Brian olharam. Quando se aproximou de nós é que Flores nos reconheceu.
–
Irving? Johnson? – e correu em nossa direção.
Os
dois outros colegas também vieram. Os três chegaram a nós e foram nos
desamarrando, ligeiros, desenrolando os arames. O mexicano veio em mim e Hart e
Brian em Johnson. Eles ainda não tinham tirado todo o arame farpado do redor de
nós quando tiraram as nossas mordaças.
– O
que aconteceu? – perguntou Flores para nós dois enquanto nos desenrolava.
Eu
não recordava de nada. Johnson passou a falar furioso:
– A
culpa toda foi do irlandês, aí! Ele agarrou e beijou uma garota com o namorado
no lado e ainda disse um monte de besteiras para ela e o namorado. O namorado
dela reclamou. O irlandês achou-se ainda com o direito de dar um soco nele. O
homem lutava como um louco e passou a dar uma surra no Irving – deve ter usado
alguma arte marcial. – Eu tentei fazer o homem parar, e defender esse infeliz
aí. Só que ele estava com um grupo de amigos. Eles acabaram batendo em nós dois
e fizeram isso conosco.
Tive
dificuldades de acreditar em tudo aquilo que Johnson disse. Quando estávamos
totalmente soltos, questionei para ele:
– Eu
fiz isso mesmo? Não me lembro de nada!
–
Claro que não lembra! Estava bêbado.
Eu
comecei a rir e o mexicano também. E acabou todos nós rindo, até mesmo Johnson.
Depois, Johnson pediu para Flores, Hart e Brian:
– Não
contem nada pros nossos superiores.
Tanto
eu quanto ele sabia que se descobrissem que nós fizemos arruaça na cidade
seríamos punidos. Os três garantiram que não iam contar nada.
quarta-feira, 15 de novembro de 2023
terça-feira, 31 de outubro de 2023
segunda-feira, 9 de outubro de 2023
Poesia
Por que amor?
Por que me sinto assim?
Por que não consigo ti esquecer?
Por que ter disse sim?
Por que tenho medo de te perder?
Por que me tocaste assim?
Por que me sinto estranha?
Por que entraste tão de repente?
Por que atingiste minhas entranhas?
Por que me olhaste daquele jeito?
Por que me disseste aquelas palavras?
Por que incendeias meu peito?
Por que disseste que me amas?
Por que fazes eu tremer?
Por que sinto saudades de ti?
Por que me sinto confusa?
Por que só penso em ti?
Por quê? Procuro a resposta.
Não entendo o que sinto
Não sei se o que dizes é verdade
Mas, te digo: “Eu não minto!”
Não tenho nenhuma resposta,
Talvez não goste tanto de mim,
E por tanto podes fazer uma aposta
Que mesmo sentindo isso, não serás meu fim!
Cláudia Elisabeth Ramos
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
Dica Canina
Nunca esqueça de olhar a carteirinha de seu pet.
Fique sempre atento a vacinas e desverminação. Seu pet agradece sacudindo o rabinho.
sexta-feira, 28 de julho de 2023
Feliz Dia dos Pais
O dia dos pais está chegando. O que acham de dar um dos livros de Cláudia Elisabeth Ramos de presente para seu pai. Compre nos links desse canal ao lado, e receba em sua casa.
Desejo aos meus irmãos Manoel e Fernando um
Feliz Dia dos Pais.
domingo, 9 de julho de 2023
Crônicas
Série "Crônicas de Guerra"
Piranhas e
Tartarugas
Olhava
meu reflexo na água, acocorado diante a um pequeno lago. Olhava meu reflexo. Eu
vestia-me de soldado (farda), todo de verde, e usava um capacete. Estava muito
sério. Tinha o formato do rosto ainda fino, magro, e o alinhamento reto dos
olhos e das sobrancelhas. Era másculo. Estava com barba por fazer. Como já foi
dito antes, meus olhos eram verdes e tinha os cabelos vermelhos escuros. Minha
barba e todos os pelos do corpo eram de um louro avermelhado. Minha pele era muito
branca.
Eu
estava muito sério e me sentia tenso. Meu rosto trazia uma mancha de sangue no
lado direito que vi pelo reflexo inverso (com a mancha no esquerdo). Olhei as
minhas mãos e elas também estavam sujas de sangue. Lavei as mãos na água e
passei-as no rosto. A água aos poucos foi ficando vermelha por minha causa.
De
repente alguém gritou atrás de mim:
–
Cuidado com as piranhas, Irving!
Olhei
para trás e estava Letter. Ele era um soldado branco, de cabelos castanhos e
olhos verdes, da minha idade. Ele estava rindo, afastado um pouco de mim,
provocando o riso de todos. Fora ele quem gritara. Ele estava de pé ao lado do
Johnson, de Smith e de Flores. Voltei a olhar a água, ainda sério.
Ouvia
Letter dizendo:
– O
sangue do irlandês vai atrair piranhas! Elas vão o comer.
Tirei
o capacete e apareceram no reflexo os meus cabelos ruivos escuros curtos, com
corte militar, um pouco crescidos e bem ondulados. Eu tinha os cabelos ruivos
escuros (quase um marrom avermelhado). Minha barba que crescia era um louro
avermelhado. Peguei a água com as duas mãos, fazendo uma concha, e lavei o
rosto. Enquanto isso ouvia a voz irritante de Letter insistindo na mesma piada
das piranhas.
– Sai
daí, irlandês! Está correndo perigo. Cuidado com as piranhas – dizia ele rindo.
Voltei
a botar o capacete e olhei a água e surpreendi-me que bem onde eu estava tinha
duas tartarugas, que vieram a mim. Ri e chamei a atenção de todos:
–
Vejam! Letter está certo! Vieram piranhas me atacar.
Meus
colegas se aproximaram, parando pelas minhas costas e olharam curiosos. Logo
que viram que eram tartarugas, todos riram.
quarta-feira, 31 de maio de 2023
Flor de Trevos
sexta-feira, 26 de maio de 2023
Poesia
Tocar em estrelas
Às vezes
Penso em tocar em estrelas...
Hoje me lembrei
Que eu as toco quase sempre,
Sempre desde que as encontrei...
Meu olhar tocas as estrelas...
Devo agradecer a Deus
Por cada momento que tenho
Cada vez que as toco com os meus
Sinto a energia viva e desenho
Com o olhar, toca as estrelas...
Ás vezes
Vejo nuvens que as cobrem
Vejo a chuva, o vento, o nada,
A brisa e o frio parecem escondê-las
Mas estou realizada,
Pois com o olhar, toco em estrelas...
Cada pequeno brilho...
Aliás, são grandes.
Abraçam-me e reluzem
Por mais pequenos que sejam meus olhos
Elas seguem-me, não se escondem...
Obrigado, senhor,
Por tê-las,
E com meu olhar
Tocar em estrelas.
(essa poesia está na orelha do livro "Oklath - Os Sete poderes de Órtil)
segunda-feira, 15 de maio de 2023
Dicas caninas
Não esqueça que vermes é coisa séria. Seu cão pode morrer por causa de vermes. E que depois de pouco tempo após a desverminação, eles podem voltar a ter. Então, esse tipo de procedimento deve ser periódico. No mínimo de três em três meses. Para ter certeza qual o período ideal, consulte seu veterinário.
domingo, 16 de abril de 2023
quinta-feira, 6 de abril de 2023
FELIZ PÁSCOA
Desejo a todos uma ótima Páscoa.
E sugiro que nesta deem os livros de Cláudia Elisabeth Ramos ao invés de chocolate.
Eles só engordam a alma.
quinta-feira, 30 de março de 2023
Crônicas
Série "Crônicas de Guerra"
O Búnquer
Estava
com nossos colegas agrupados com outros militares aliados ao ar livre. Se não
me engano eram ingleses e australianos. Sabia que todos estavam conosco graças
a um resgate feito por nós. Encontramo-los num campo de prisioneiros. O coronel
Lander estava reunido com outros oficiais aliados. Um coronel inglês, Stark, e
um major australiano, Phillips. O coronel Stark era branco, muito magro, com
uma calvície marcante, olhos verdes e cabelos castanhos claros. O major
Phillips também era branco, tinha os cabelos louros e os olhos azuis. Faziam
planos, colocando um mapa sobre uma grande pedra. Falavam muitas coisas.
E eu
estava junto com Flores e Johnson, descansando, sentado numa pedra; mas olhava a
uma pequena distância os oficiais. Prestava atenção neles. Eles falavam sobre
dominar um búnquer*, que havia mais a frente. O coronel inglês Stark falava:
–
Vamos enviar uma força especial até lá, dominá-lo e depois o resto da tropa
segue.
– Tem
que ser nossos melhores homens – dizia o major australiano Phillips.
–
Acho que devemos mandar seis homens: dois ingleses, dois americanos, dois
australianos...
E os
três oficiais concordaram. E o coronel Lander disse:
– Vou
selecionar meus homens.
Afastou-se
deles, vindo em nossa direção, enquanto os outros oficiais iam para as suas tropas.
O coronel veio exatamente em minha direção e ordenou-me:
–
Venha comigo, Sargento.
Depois
foi para mais a frente, a procura de mais alguém. Eu o segui pensativo. Havia
ouvido que eles mandariam os melhores homens e se o coronel me chamara,
considerava-me um dos melhores realmente.
Logo
ele parou a frente de Smith e ordenou:
–
Smith, venha conosco!
Obs.:
o coronel selecionou logo os mais cruéis da tropa – Smith e eu. Talvez na
guerra, os melhores sejam os mais cruéis.
O
coronel Lander voltou para diante da pedra com nós dois juntos. Já estava lá o
major australiano Phillips com dois homens também. Ficamos parados um tempo até
chegar o coronel inglês Stark, com também outros dois homens.
Os
oficiais começaram explicar várias coisas, sendo que a maior parte era o
coronel inglês que dizia. Foram várias coisas sobre o búnquer que não saberei
contar aqui. Em resumo, eles queriam que nós chegássemos ao búnquer
silenciosamente e o dominasse. Queriam que nós evitássemos dar tiros e não
fizesse os japoneses atirar. Precisavam que aquele búnquer fosse dominado sem
alertar aos outros. Segundo eles, havia uma tropa inimiga bem perto e queriam
que eles só nos notassem quando já estivéssemos atacando com as tropas deles.
– O
tenente Jenkees vai liderar o grupo de vocês – disse o coronel Stark,
apresentando-nos um oficial inglês. Ele era branco, de olhos castanhos e
cabelos castanhos claros.
E
fomos apresentados entre nós. O outro inglês era também o sargento Manson,
louro de olhos azuis. O Sargento Coinman era um dos australianos. Ele era
branco, de cabelos e olhos castanhos. O outro era o sargento Barr, ele tinha os
cabelos louros e os olhos verdes. O menos graduado era Smith, que era soldado.
Eu já era sargento. Ninguém era simpático, todos eram sérios e tinham um semblante
malvado no rosto. É bem provável que até eu mesmo tivesse.
Seguimos
para cumprir a missão afastando-nos da tropa por uma trilha subindo um morro.
Ela era cheio de pedras em meio a grandes árvores. Andamos algum tempo até
podermos avistar no alto do morro uma construção de concreto escondida, toda
camuflada. Eu sabia que aquilo era o búnquer. Fomos rodeando-o, espalhados. Fui
o primeiro a chegar à entrada abaixo dele. Havia um soldado japonês andando de
um lado para o outro de guarda, no lado de fora. Eu cuidei para não ser visto,
escondendo-me nos arbustos e saltei sobre ele. Esfaqueei-o nos rins, tapando a
boca dele para não gritar. Ele logo caiu morto e parei na entrada esperando os
outros chegarem. Eles logo chegaram atrás. O tenente inglês sinalizou para eu
seguir a frente. E fui.
Logo
no corredor eu podia ver um soldado japonês que vinha em nossa direção. Escondi-me
atrás de uma parede, esperando-o. Quando ele passou por mim, saltei sobre o
japonês e passei a minha faca na garganta dele. O tenente Jenkees ainda foi
aparando-o enquanto ele caía morto. Segui em frente. Andei pelo corredor sem
encontrar ninguém mais. Deparamo-nos com uma entrada de uma escadaria de ferro que
subia em espiral. O tenente sinalizou para eu subir. Subi a escada estreita e
íngreme entre um espaço de cerca de um metro. Eles vieram atrás. Chegando ao
topo, espiei e vi que havia três japoneses ali.
Sinalizei
para os outros que vinham atrás, dizendo por sinais quantos eram, e o tenente sinalizou
para abrir espaço para ele. Comprimi-me na escada e ficamos três amontoados,
sendo o tenente Jenkees, o sargento Manson e eu. Obs.: os três britânicos,
afinal, eu era irlandês. Quando um dos japoneses aproximou-se e ficou de costas
para nós, conversando algo com seus companheiros, ergui-me e saltei sobre ele.
Enquanto isso, o tenente e o sargento inglês saltavam sobre os outros dois. Eu
cortei a garganta do japonês rapidamente e vi ainda o mais afastado sacar o
revólver para atirar no sargento inglês que tentava pegá-lo.
Como
tínhamos que ser silenciosos, peguei a mesma faca que trazia em mãos e joguei-a
em direção daquele japonês e atingiu-o no pescoço, de frente. Ele ainda tentou
segurar o pescoço, largando a arma no chão, mas caiu morto. Olhei para o lado e
o tenente tinha matado esfaqueado o outro. Tínhamos conseguido.
Smith
chegou ao meu lado e reclamou sussurrando:
–
Tinha que matar a maioria deles, sargento?! Não deixou nenhum para mim.
O
tenente também me criticou, dizendo em sussurro:
– Era
um trabalho de equipe. Se era para um matar todos, teriam mandado um só homem.
Não
disse nada, mas senti-me injuriado. Pensei que, se não fosse eu, teria ocorrido
um tiro e todo o nosso plano teria ido por água abaixo. Entretanto, eles não
estavam errados. Eu realmente tinha matado a maioria dali. Somente o tenente
havia matado um. Eu acabara com quatro japoneses.
O
tenente Jenkees pegou um rifle e colocou-o encostado na janela. Ela era
estreita e longa, própria para se atirar por ela. No cabo do rifle, pendurou um
pano verde escuro. Nós sabíamos que esse era o sinal que as tropas precisavam
para avançar. Eles veriam através de binóculos.
O
tenente ordenou a mim e a Smith:
–
Vocês dois, olhem sala por sala do Búnquer. Averiguem se há mais alguém. –
Voltou-se aos dois australianos e ordenou: – Vão junto e dividam-se.
Nós
quatro descemos as escadas e voltamos aos corredores. Eu e Smith fomos por um
lado, ainda em silêncio, e os australianos para o outro. Passamos primeiro por
uma sala cheia de armamento. Seguindo mais adiante, chegamos numa que logo ao
abrirmos saiu um cheiro de bicho morto. Dentro dela havia quatro corpos de
asiáticos civis, duas mulheres e dois homens, empilhados. Eles já estavam
apodrecendo. Bem acima estava o corpo de um dos homens. Ele estava com os dedos
das mãos cortados, totalmente espancado e nitidamente tinha sofrido torturas.
– Por
que torturariam e matariam civis? – perguntou Smith e eu apenas sacudi a
cabeça, sinalizado que não sabia.
Smith
separou-se de mim e foi numa última sala sozinho. Eu fiquei olhando os corpos,
chamando-me atenção que as duas mulheres estavam com as saias rasgadas, sem
calcinhas e aparecendo as genitálias. Elas estavam sangrando e feridas,
provando que elas tinham sido estupradas. Voltei a olhar para onde Smith tinha
ido e ele voltava.
– Era
uma cozinha – disse ele.
Voltei
para o outro lado e estavam os dois australianos. Eles se aproximaram.
– Não
encontramos ninguém – disse Coinman.
Olharam
para dentro da sala e Barr questionou o mesmo que Smith:
– Por
que fizeram isso com civis?
Ninguém
respondeu. E saí dali e voltei para a entrada das escadas.
(Búnquer
- Abrigo subterrâneo fortificado e/ou blindado,
com grande armamento, construído para dar abrigo em situações de guerra,
protegendo aqueles que se abrigam de projéteis.)
quarta-feira, 22 de março de 2023
quarta-feira, 15 de março de 2023
Poesia
Pelos que choram
Pela fome,
Pelo cansaço,
Pelo medo,
Pelo aço...
Pelos que choram,
Pela guerra,
Pela Vida,
Pela Terra,
Por uma saída...
Pelos que choram,
Pelo velho,
Pelo moço,
Pelas lágrimas
Pelo povo...
Pelos que choram,
Pelo vento
Pelo mar,
Pelo lamento
Ou, talvez, por amar...
Pelos que choram
A cada instante
Por cada glória
De um verso cantado
Por um momento distante
Por estar chorando...
Cláudia Elisabeth Ramos
sábado, 25 de fevereiro de 2023
Dicas Caninas
Nunca esqueça de deixar água fresca para seu cão.
Eles precisam disso para viver, como nós.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
quarta-feira, 11 de janeiro de 2023
Crônicas
Série "Crônicas de Guerra"
Traição
Era noite, mas eu não dormia. Estava num acampamento de nossa tropa. Eu estava bem desperto, mas deitado no chão. De repente, comecei a ouvir passos e vi sombras. Levantei-me lentamente, pegando a minha faca que trazia na cintura e fui em direção do ruído. Chegando lá, constatei ser dois de nossos homens, um branco e um afrodescendente. O afrodescendente era o meu amigo Johnson; o outro era do outro pelotão que se unira a nós, louro e de olhos verdes. Seu nome era Parker. Ameacei a ambos com a faca, sorrindo, só para assustá-los.
Flagrando-se
que era eu, Parker sussurrou um palavrão e disse:
– Merda, o sargento irlandês louco!
– O
que os dois estão fazendo? – perguntei em sussurro, sério, pois não gostara do
que Parker falara.
–
Apenas vamos urinar, sargento – disse Johnson, dando um sorriso forçado,
tentando amenizar aos coisas.
–
Vão, mas não se afastem muito. Tomem cuidado.
Ambos
pararam a alguns metros de mim e urinaram. E eu esperei. Quando os dois
terminaram e retornaram, voltei ao lugar que estava deitado. Deitei-me, mas
continuei acordado.
Ouvi
Flores resmungar:
–
Quero uma cama, por favor.
Ele
estava quase ao meu lado. Fiquei tentando dormir, mas estava com insônia.
Passou algum tempo, acredito que quase uma hora. Foi então que voltei a ver os
dois levantando-se e andando. Isso me deixou desconfiado, principalmente depois
do modo que Parker agiu ao me ver. Cutuquei Flores e sussurrei:
–
Johnson e Parker estão fazendo algo estranho, mexicano. Vem comigo descobrir o
que é – ordenei.
Flores
obedeceu meio a contragosto. Levantou-se e nós seguimos Johnson e Parker. Vimos
que eles entravam mata adentro e nós fomos atrás mantendo uma distância,
escondendo-nos para não sermos vistos. Quando chegamos diante de uma baixada na
mata, paramos e olhamos de longe. Iluminados pelo luar, os dois descerem uma
trilha e chegarem num acampamento japonês, o qual eu nem sabia da existência
dele tão perto. Abismei-me e perguntei pra mim mesmo – sem falar – o que os
dois estavam fazendo, eu nunca imaginara que fosse isso. Eles fizeram sinais de
luz com uma lanterna antes de se aproximarem do acampamento. Um japonês
sinalizou para eles com outra lanterna e eles chegaram aos inimigos. Vi os dois
falando com o soldado inimigo em japonês.
– Você
sabia que eles falavam japonês? – perguntei sussurrando a Flores.
E ele
negou com a cabeça. Eu senti meu coração disparar com aquilo, vendo que se
tratava de traição. Sei que tremi, ficando nervoso e tentando entender aqueles
dois colegas. Principalmente o Johnson, a quem eu considerava um amigo.
Até
que o mexicano sussurrou:
– Não
posso crer... Os dois são traidores!
– Eu
também não posso – sussurrei.
Eles
entraram numa tenda dos japoneses e ficaram por lá um tempo. Nós ficamos nos
olhando, sem saber o que fazer.
– O
que devemos fazer? – perguntou Flores.
– Eu
não sei – disse nervoso. – Se eu chegar dizendo que são traidores para todos, o
resto da tropa não acreditará, já que fui eu quem descobriu. Dirão que os dois
fizeram algo e que eu estava tramando para matá-los como disseram que fiz com o
tenente Wayner.
– Mas
eu sou sua testemunha – disse Flores.
– Não
contará muito! Somos amigos.
– E
se contarmos o que vimos ao coronel? Ele certamente acreditará em nós – sugeriu
Flores.
–
Isso, você tem razão – concordei, depois lamentei abraçando o meu próprio rosto
– Ah, não, logo o Johnson! – como viram pelas narrativas anteriores, Johnson
era um dos meus melhores amigos, e também de Flores.
Vimos
então os dois saírem da tenda e voltarem à trilha. E nós dois nos afastamos
rápido, voltando para onde estávamos acampados. Chegamos antes deles e nos
deitamos. Vimo-los passando por nós deitados e olhando a todos, inclusive a nós
que fingimos dormir. Não consegui dormir mais e logo amanheceu. Pensava muito
em Johnson, dedurar um amigo é muito difícil. Chamei o mexicano e antes que a
tropa toda acordasse fui até o coronel, que dormia no chão como todos nós.
Cutuquei-o e ele acordou, estranhando ao ver nós dois tão cedo em sua tenda.
– Por
favor, senhor, – sussurrei – venha conosco! É importante!
Ele
levantou e seguiu-nos, sem perguntar nada. Fomos para mais afastado dos dois e
longe donde vimos estarem os japoneses. Contamos tudo o que vimos ao coronel.
Ele ficou tão boquiaberto quanto nós.
– Não
contei para o resto da tropa, porque acho que não irão acreditar em mim –
expliquei afobado.
– É
difícil acreditar que os dois sejam traidores, mas... Depois do que eles
fizeram – disse Flores nervoso, mas bem mais calmo do que eu.
–
Acalmem-se os dois! – disse o coronel. – Tenho uma ideia, mas preciso que vocês
dois tenham sangue frio. Quero que vocês ajam com os dois como se nada tivesse
acontecido. – E olhou para mim: – Principalmente você, Irving! Sei que Flores
vai conseguir, mas você... Eu tenho minhas dúvidas. Você é sangue muito quente
– que eu era esquentadinho.
– Eu
juro que vou tentar me controlar – disse e ele sorriu.
E
todos nós voltamos para junto do restante da tropa.
Eu
passei tenso por outros soldados juntos de Johnson.
– Ei,
sargento! – chamou Johnson como antes de eu saber que ele era um traidor, rindo
e brincando.
Fui
para perto dele, sério, num misto de irritado com triste. Ele começou a dizer
besteiras engraçadas para todos que estavam ao redor e eu não prestei a
atenção. Só pensava em como ele poderia ser um traidor. Aquilo me doía muito,
principalmente porque gostava dele. Ao final, todos riram, menos eu. E ele
notou.
– O
sargento levantou hoje de mau-humor – disse o soldado Hart.
Não
discordei. Apenas gritei, ordenando:
–
Peguem suas armas! Vamos! Vamos andar.
Fui
estúpido e grosseiro. O coronel passou por mim, segurou-me pelo braço e
sussurrou:
–
Sangue frio! – e eu entendi que era para eu moderar, mas era muito difícil.
Quando
estávamos perto de um campo, um de nossos aviões cargueiros passou, largando de
paraquedas várias caixas que nós sabíamos que eram munições, alimentos e
remédios. Preparávamos para ir buscar a carga que caía, quando fomos atacados por
japoneses que nos impediram de chegar à carga. Eles é que pegaram. Enquanto nos
defendíamos, vimos que assim que eles pegaram a carga, os japoneses nos
deixaram.
O
coronel Lander aproximou-se de mim, de Flores e do major Welt, o qual deve ter
ficado sabendo pelo coronel, e disse:
–
Provavelmente foi isso que os dois informaram aos japoneses. Todos nós sabíamos
da chegada da carga.
–
Sim, – concordei.
–
Vieram roubar a nossa munição – disse o major. – Logo ficaremos sem se não
conseguirmos pegar outra carga e será fácil o ataque deles.
– Sei
o que fazer – disse o coronel, confiante.
Chamou
o soldado do rádio e pediu que ele ligasse com o outro pelotão ao sul. Ele logo
obedeceu. O coronel foi para um canto isolado com o soldado do rádio, afastado
de nós.
O
coronel Lander chegava à tropa e falava:
– Tem
um paiol que fica ao sul, a umas duas milhas! Nós iremos até lá. Senão
conseguirmos munição, estaremos com grandes problemas... Por hora vamos
descansar.
À
noite, eu vi que Johnson e Parker novamente se levantarem pela madrugada. Não
falei nada. Depois que eles partiram, o coronel Lander chegou ao meu lado.
–
Vamos, contem a eles! – sussurrava para os dois contarem aos japoneses e sorriu
para mim, fazendo-me flagrar que fazia parte dos planos dele os dois contarem
ao inimigo.
Apenas
o olhei sério e voltei a tentar dormir.
Estávamos
andando. Ao invés de seguirmos ao sul, o coronel Lander fez nós irmos a
sudeste. Johnson chegou a mim e perguntou:
– Não
íamos para o sul?
Eu
disse como se nada soubesse:
–
Íamos! Mas o coronel deve ter suas razões para mudar a rota.
Ele
concordou sacudindo a cabeça, claramente preocupado. E eu controlei a minha
ira, de dar-lhe um grande murro.
Chegamos
dentro de uma mata.
–
Mande-os espalharem-se em diversos pontos ao redor e irem em silêncio,
escondidos – ordenou-me o coronel e eu repassei a ordem. – Mas não mande os
dois – referia-se a Johnson e a Parker. – Diga pra ficarem conosco.
Chegamos
onde deveria ser o paiol. Ali, realmente havia muitas caixas empilhadas e os
japoneses já estavam no local. Nós os víamos do alto, em uma baixada, no meio
das árvores, camuflados. Vimos quando foi aberta uma das caixas e não havia
nada nela.
–
Johnson e Parker – chamou o coronel. Os dois se aproximaram dele e ele ordenou:
– Vocês dois! Cheguem lá no meio dos japoneses e digam que eles estão cercados.
– Por
que nós? – perguntou Parker, assustado.
–
Alguém tem que fazer! – disse o coronel.
– Nós
nunca avisamos... Vocês vão ficar à vista? – perguntou Johnson.
–
Sim! – E ordenou sério: – Vamos, vão de uma vez!
Eles
foram claramente apavorados. Desceram a rampa e foram ficando a vista dos
japoneses. Esses não se importaram com eles, provando para todos que eram
conhecidos dos inimigos. Um tenente japonês aproximou-se dos dois, sorridente,
e curvou-se, uma forma amigável que o povo japonês tem de se cumprimentar.
Johnson
falou em inglês agressivo, gesticulando com a cabeça ao japonês outra coisa:
–
Vocês estão cercados, rendam-se!
O
tenente japonês disse algo em japonês, confuso, sem entender. Parker repetiu o
que Johnson dissera, sinalizando a sua volta, e só então o tenente flagrou-se
do que acontecia. E a nossa tropa ficou visível.
Do
outro lado, a outra de nossa tropa também se tornou visível. Todos apontaram
suas armas aos japoneses e a Johnson e Parker. Os japoneses se renderam. O
coronel foi direto nos nossos dois colegas apontando seu revólver, com Hart.
Hart retirou as armas deles.
–
Seus traidores miseráveis – chamou-os o coronel rosnando.
Os
dois começaram a falar ao mesmo tempo, que eram inocentes, que não eram
traidores, que o coronel tinha cometido um engano. O coronel foi até os dois e
arrancou as insígnias deles.
–
Vocês desonraram seu próprio país.
E eu
e Flores ficamos mirando aos dois com nossos rifles. Meu coração quase saia
pela boca já imaginando que ia acontecer com meu amigo. O coronel ordenou cinco
de nossos homens para deixarem seus rifles aos pés dele. Eles os fizeram.
Retirou as balas de um. Depois misturou os rifles e pediu que os cinco
voltassem a pegá-lo. Eles os pegaram. Mesmo sem o coronel dizer, todos
entenderam de que se tratava de um fuzilamento. Essa era a pena a quem fosse
traidor. Os cinco ficaram logo em fileira diante dos dois, que estavam lado a
lado, apavorados.
Eles
continuavam dizendo que eram inocentes. Eu abaixei a minha arma e somente
fiquei olhando, triste, sufocado. Logo o sargento Ladd disse:
–
Preparar, apontar, fogo!
E os
dois caíram mortos cobertos pelos tiros. Era estranho o sentimento de ser
traído. Eu sentia como se fosse ferido sem o ser. Acho que todo o meu pelotão
sentiu isso. Matar um colega que estivera com a gente durante tanto tempo, no
treinamento, nos confrontos e na farra foi uma das piores sensações que tive,
apesar de não ter dado nenhum tiro contra eles. Talvez por ter sido eu quem
descobrira a traição.
E
quanto a Johnson, eu não consigo ainda compreender as razões que levaram a
traição dele. Isso me sufoca, já que como viram, ele sempre estivera comigo e
era meu amigo. Gostaria de reencontrá-lo e perguntar o que passou pela cabeça
dele ao cometer aquela traição. Como acredito em reencarnação, quem sabe quando
nos cruzarmos nessa ou noutra vida eu possa fazer isso... Espero reconhecê-lo.
E os japoneses
foram todos levados como prisioneiros.