quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Crônicas

 Série "Crônicas de Guerra"


Bebedeira

 

Era noite e eu estava amarrado por um arame farpado a um poste de uma cerca. Estava com uma mordaça na minha boca, feita por um trapo velho. Tinha um arame farpado que me sufocava enrolado a minha garganta ao moerão. Com o canto do olho vi meu amigo Johnson. Johnson era um soldado como eu afrodescendente, forte, alto e bonito. Ele estava como eu, enrolado com o arame farpado no outro poste da cerca. Tanto eu quanto ele estávamos espancados.

A cerca ao qual estávamos presos era à beira de uma estrada de areão. Vi passando pela estrada a nossa frente nossos colegas Flores, Hart e Brian. Hart era branco de cabelos castanhos e olhos verdes, seu nome é fictício. E Brian era branco, de cabelos e olhos castanhos. Seu nome também é fictício. Os três iam passando sem nos verem. Eu desejava gritar pedindo socorro, mas não tinha como. Fiquei torcendo em pensamento para que um deles olhasse na nossa direção. E quem fez isso foi o mexicano. Ele olhou para nós sem acreditar no que via.

– O que é isso? – perguntou ele para os outros dois.

Hart e Brian olharam. Quando se aproximou de nós é que Flores nos reconheceu.

– Irving? Johnson? – e correu em nossa direção.

Os dois outros colegas também vieram. Os três chegaram a nós e foram nos desamarrando, ligeiros, desenrolando os arames. O mexicano veio em mim e Hart e Brian em Johnson. Eles ainda não tinham tirado todo o arame farpado do redor de nós quando tiraram as nossas mordaças.

– O que aconteceu? – perguntou Flores para nós dois enquanto nos desenrolava.

Eu não recordava de nada. Johnson passou a falar furioso:

– A culpa toda foi do irlandês, aí! Ele agarrou e beijou uma garota com o namorado no lado e ainda disse um monte de besteiras para ela e o namorado. O namorado dela reclamou. O irlandês achou-se ainda com o direito de dar um soco nele. O homem lutava como um louco e passou a dar uma surra no Irving – deve ter usado alguma arte marcial. – Eu tentei fazer o homem parar, e defender esse infeliz aí. Só que ele estava com um grupo de amigos. Eles acabaram batendo em nós dois e fizeram isso conosco.

Tive dificuldades de acreditar em tudo aquilo que Johnson disse. Quando estávamos totalmente soltos, questionei para ele:

– Eu fiz isso mesmo? Não me lembro de nada!

– Claro que não lembra! Estava bêbado.

Eu comecei a rir e o mexicano também. E acabou todos nós rindo, até mesmo Johnson. Depois, Johnson pediu para Flores, Hart e Brian:

– Não contem nada pros nossos superiores.

Tanto eu quanto ele sabia que se descobrissem que nós fizemos arruaça na cidade seríamos punidos. Os três garantiram que não iam contar nada.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Poesia

 Por que amor?


Por que me sinto assim?

Por que não consigo ti esquecer?

Por que ter disse sim?

Por que tenho medo de te perder?


                                       Por que me tocaste assim?

                                       Por que me sinto estranha?

                                       Por que entraste tão de repente?

                                       Por que atingiste minhas entranhas?


Por que me olhaste daquele jeito?

Por que me disseste aquelas palavras?

Por que incendeias meu peito?

Por que disseste que me amas?


                                       Por que fazes eu tremer?

                                       Por que sinto saudades de ti?

                                       Por que me sinto confusa?

                                       Por que só penso em ti?


Por quê? Procuro a resposta.

Não entendo o que sinto

Não sei se o que dizes é verdade

Mas, te digo: “Eu não minto!”


                                       Não tenho nenhuma resposta,

                                       Talvez não goste tanto de mim,

                                       E por tanto podes fazer uma aposta

                                       Que mesmo sentindo isso, não serás meu fim!


Cláudia Elisabeth Ramos

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Dica Canina

 

Minha amada Beyoncé.

Nunca esqueça de olhar a carteirinha de seu pet. 

Fique sempre atento a vacinas e desverminação. Seu pet agradece sacudindo o rabinho.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Feliz Dia dos Pais


Papai Manoel e filha Manuela 


Papai Fernando e filha Fabiele


O dia dos pais está chegando. O que acham de dar um dos livros de Cláudia Elisabeth Ramos de presente para seu pai. Compre nos links desse canal ao lado, e receba em sua casa.


Desejo aos meus irmãos Manoel e Fernando um 

Feliz Dia dos Pais.




domingo, 9 de julho de 2023

Crônicas

Série "Crônicas de Guerra"


Piranhas e Tartarugas

 

Olhava meu reflexo na água, acocorado diante a um pequeno lago. Olhava meu reflexo. Eu vestia-me de soldado (farda), todo de verde, e usava um capacete. Estava muito sério. Tinha o formato do rosto ainda fino, magro, e o alinhamento reto dos olhos e das sobrancelhas. Era másculo. Estava com barba por fazer. Como já foi dito antes, meus olhos eram verdes e tinha os cabelos vermelhos escuros. Minha barba e todos os pelos do corpo eram de um louro avermelhado. Minha pele era muito branca.

Eu estava muito sério e me sentia tenso. Meu rosto trazia uma mancha de sangue no lado direito que vi pelo reflexo inverso (com a mancha no esquerdo). Olhei as minhas mãos e elas também estavam sujas de sangue. Lavei as mãos na água e passei-as no rosto. A água aos poucos foi ficando vermelha por minha causa.

De repente alguém gritou atrás de mim:

– Cuidado com as piranhas, Irving!

Olhei para trás e estava Letter. Ele era um soldado branco, de cabelos castanhos e olhos verdes, da minha idade. Ele estava rindo, afastado um pouco de mim, provocando o riso de todos. Fora ele quem gritara. Ele estava de pé ao lado do Johnson, de Smith e de Flores. Voltei a olhar a água, ainda sério.

Ouvia Letter dizendo:

– O sangue do irlandês vai atrair piranhas! Elas vão o comer.

Tirei o capacete e apareceram no reflexo os meus cabelos ruivos escuros curtos, com corte militar, um pouco crescidos e bem ondulados. Eu tinha os cabelos ruivos escuros (quase um marrom avermelhado). Minha barba que crescia era um louro avermelhado. Peguei a água com as duas mãos, fazendo uma concha, e lavei o rosto. Enquanto isso ouvia a voz irritante de Letter insistindo na mesma piada das piranhas.

– Sai daí, irlandês! Está correndo perigo. Cuidado com as piranhas – dizia ele rindo.

Voltei a botar o capacete e olhei a água e surpreendi-me que bem onde eu estava tinha duas tartarugas, que vieram a mim. Ri e chamei a atenção de todos:

– Vejam! Letter está certo! Vieram piranhas me atacar.

Meus colegas se aproximaram, parando pelas minhas costas e olharam curiosos. Logo que viram que eram tartarugas, todos riram.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Flor de Trevos



do Jardim de Cláudia Elisabeth Ramo.
, Não é de quatro folhas, mesmo assim é mágico como qualquer flor.

 

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Poesia

 Tocar em estrelas


Às vezes

Penso em tocar em estrelas...

Hoje me lembrei

Que eu as toco quase sempre,

Sempre desde que as encontrei...

Meu olhar tocas as estrelas...

Devo agradecer a Deus

Por cada momento que tenho

Cada vez que as toco com os meus

Sinto a energia viva e desenho

Com o olhar, toca as estrelas...

Ás vezes

Vejo nuvens que as cobrem

Vejo a chuva, o vento, o nada,

A brisa e o frio parecem escondê-las

Mas estou realizada,

Pois com o olhar, toco em estrelas...

Cada pequeno brilho...

Aliás, são grandes.

Abraçam-me e reluzem

Por mais pequenos que sejam meus olhos

Elas seguem-me, não se escondem...

Obrigado, senhor,

Por tê-las,

E com meu olhar

Tocar em estrelas.


Cláudia Elisabeth Ramos

(essa poesia está na orelha do livro "Oklath - Os Sete poderes de Órtil)

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Dicas caninas


Esta é Cláudia e Justin, seu Lulu da Pomerânia (Spitz Alemão).


Não esqueça que vermes é coisa séria. Seu cão pode morrer por causa de vermes. E que depois de pouco tempo após a desverminação, eles podem voltar a ter. Então, esse tipo de procedimento deve ser periódico. No mínimo de três em três meses. Para ter certeza qual o período ideal, consulte seu veterinário.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

FELIZ PÁSCOA

 



Desejo a todos uma ótima Páscoa. 

E sugiro que nesta deem os livros de Cláudia Elisabeth Ramos ao invés de chocolate. 

Eles só engordam a alma.

quinta-feira, 30 de março de 2023

Crônicas

   Série "Crônicas de Guerra"

O Búnquer

 

Estava com nossos colegas agrupados com outros militares aliados ao ar livre. Se não me engano eram ingleses e australianos. Sabia que todos estavam conosco graças a um resgate feito por nós. Encontramo-los num campo de prisioneiros. O coronel Lander estava reunido com outros oficiais aliados. Um coronel inglês, Stark, e um major australiano, Phillips. O coronel Stark era branco, muito magro, com uma calvície marcante, olhos verdes e cabelos castanhos claros. O major Phillips também era branco, tinha os cabelos louros e os olhos azuis. Faziam planos, colocando um mapa sobre uma grande pedra. Falavam muitas coisas.

E eu estava junto com Flores e Johnson, descansando, sentado numa pedra; mas olhava a uma pequena distância os oficiais. Prestava atenção neles. Eles falavam sobre dominar um búnquer*, que havia mais a frente. O coronel inglês Stark falava:

– Vamos enviar uma força especial até lá, dominá-lo e depois o resto da tropa segue.

– Tem que ser nossos melhores homens – dizia o major australiano Phillips.

– Acho que devemos mandar seis homens: dois ingleses, dois americanos, dois australianos...

E os três oficiais concordaram. E o coronel Lander disse:

– Vou selecionar meus homens.

Afastou-se deles, vindo em nossa direção, enquanto os outros oficiais iam para as suas tropas. O coronel veio exatamente em minha direção e ordenou-me:

– Venha comigo, Sargento.

Depois foi para mais a frente, a procura de mais alguém. Eu o segui pensativo. Havia ouvido que eles mandariam os melhores homens e se o coronel me chamara, considerava-me um dos melhores realmente.

Logo ele parou a frente de Smith e ordenou:

– Smith, venha conosco!

Obs.: o coronel selecionou logo os mais cruéis da tropa – Smith e eu. Talvez na guerra, os melhores sejam os mais cruéis.

O coronel Lander voltou para diante da pedra com nós dois juntos. Já estava lá o major australiano Phillips com dois homens também. Ficamos parados um tempo até chegar o coronel inglês Stark, com também outros dois homens.

Os oficiais começaram explicar várias coisas, sendo que a maior parte era o coronel inglês que dizia. Foram várias coisas sobre o búnquer que não saberei contar aqui. Em resumo, eles queriam que nós chegássemos ao búnquer silenciosamente e o dominasse. Queriam que nós evitássemos dar tiros e não fizesse os japoneses atirar. Precisavam que aquele búnquer fosse dominado sem alertar aos outros. Segundo eles, havia uma tropa inimiga bem perto e queriam que eles só nos notassem quando já estivéssemos atacando com as tropas deles.

– O tenente Jenkees vai liderar o grupo de vocês – disse o coronel Stark, apresentando-nos um oficial inglês. Ele era branco, de olhos castanhos e cabelos castanhos claros.

E fomos apresentados entre nós. O outro inglês era também o sargento Manson, louro de olhos azuis. O Sargento Coinman era um dos australianos. Ele era branco, de cabelos e olhos castanhos. O outro era o sargento Barr, ele tinha os cabelos louros e os olhos verdes. O menos graduado era Smith, que era soldado. Eu já era sargento. Ninguém era simpático, todos eram sérios e tinham um semblante malvado no rosto. É bem provável que até eu mesmo tivesse.

Seguimos para cumprir a missão afastando-nos da tropa por uma trilha subindo um morro. Ela era cheio de pedras em meio a grandes árvores. Andamos algum tempo até podermos avistar no alto do morro uma construção de concreto escondida, toda camuflada. Eu sabia que aquilo era o búnquer. Fomos rodeando-o, espalhados. Fui o primeiro a chegar à entrada abaixo dele. Havia um soldado japonês andando de um lado para o outro de guarda, no lado de fora. Eu cuidei para não ser visto, escondendo-me nos arbustos e saltei sobre ele. Esfaqueei-o nos rins, tapando a boca dele para não gritar. Ele logo caiu morto e parei na entrada esperando os outros chegarem. Eles logo chegaram atrás. O tenente inglês sinalizou para eu seguir a frente. E fui.

Logo no corredor eu podia ver um soldado japonês que vinha em nossa direção. Escondi-me atrás de uma parede, esperando-o. Quando ele passou por mim, saltei sobre o japonês e passei a minha faca na garganta dele. O tenente Jenkees ainda foi aparando-o enquanto ele caía morto. Segui em frente. Andei pelo corredor sem encontrar ninguém mais. Deparamo-nos com uma entrada de uma escadaria de ferro que subia em espiral. O tenente sinalizou para eu subir. Subi a escada estreita e íngreme entre um espaço de cerca de um metro. Eles vieram atrás. Chegando ao topo, espiei e vi que havia três japoneses ali.

Sinalizei para os outros que vinham atrás, dizendo por sinais quantos eram, e o tenente sinalizou para abrir espaço para ele. Comprimi-me na escada e ficamos três amontoados, sendo o tenente Jenkees, o sargento Manson e eu. Obs.: os três britânicos, afinal, eu era irlandês. Quando um dos japoneses aproximou-se e ficou de costas para nós, conversando algo com seus companheiros, ergui-me e saltei sobre ele. Enquanto isso, o tenente e o sargento inglês saltavam sobre os outros dois. Eu cortei a garganta do japonês rapidamente e vi ainda o mais afastado sacar o revólver para atirar no sargento inglês que tentava pegá-lo.

Como tínhamos que ser silenciosos, peguei a mesma faca que trazia em mãos e joguei-a em direção daquele japonês e atingiu-o no pescoço, de frente. Ele ainda tentou segurar o pescoço, largando a arma no chão, mas caiu morto. Olhei para o lado e o tenente tinha matado esfaqueado o outro. Tínhamos conseguido.

Smith chegou ao meu lado e reclamou sussurrando:

– Tinha que matar a maioria deles, sargento?! Não deixou nenhum para mim.

O tenente também me criticou, dizendo em sussurro:

– Era um trabalho de equipe. Se era para um matar todos, teriam mandado um só homem.

Não disse nada, mas senti-me injuriado. Pensei que, se não fosse eu, teria ocorrido um tiro e todo o nosso plano teria ido por água abaixo. Entretanto, eles não estavam errados. Eu realmente tinha matado a maioria dali. Somente o tenente havia matado um. Eu acabara com quatro japoneses.

O tenente Jenkees pegou um rifle e colocou-o encostado na janela. Ela era estreita e longa, própria para se atirar por ela. No cabo do rifle, pendurou um pano verde escuro. Nós sabíamos que esse era o sinal que as tropas precisavam para avançar. Eles veriam através de binóculos.

O tenente ordenou a mim e a Smith:

– Vocês dois, olhem sala por sala do Búnquer. Averiguem se há mais alguém. – Voltou-se aos dois australianos e ordenou: – Vão junto e dividam-se.

Nós quatro descemos as escadas e voltamos aos corredores. Eu e Smith fomos por um lado, ainda em silêncio, e os australianos para o outro. Passamos primeiro por uma sala cheia de armamento. Seguindo mais adiante, chegamos numa que logo ao abrirmos saiu um cheiro de bicho morto. Dentro dela havia quatro corpos de asiáticos civis, duas mulheres e dois homens, empilhados. Eles já estavam apodrecendo. Bem acima estava o corpo de um dos homens. Ele estava com os dedos das mãos cortados, totalmente espancado e nitidamente tinha sofrido torturas.

– Por que torturariam e matariam civis? – perguntou Smith e eu apenas sacudi a cabeça, sinalizado que não sabia.

Smith separou-se de mim e foi numa última sala sozinho. Eu fiquei olhando os corpos, chamando-me atenção que as duas mulheres estavam com as saias rasgadas, sem calcinhas e aparecendo as genitálias. Elas estavam sangrando e feridas, provando que elas tinham sido estupradas. Voltei a olhar para onde Smith tinha ido e ele voltava.

– Era uma cozinha – disse ele.

Voltei para o outro lado e estavam os dois australianos. Eles se aproximaram.

– Não encontramos ninguém – disse Coinman.

Olharam para dentro da sala e Barr questionou o mesmo que Smith:

– Por que fizeram isso com civis?

Ninguém respondeu. E saí dali e voltei para a entrada das escadas.

 

(Búnquer - Abrigo subterrâneo fortificado e/ou blindado, com grande armamento, construído para dar abrigo em situações de guerra, protegendo aqueles que se abrigam de projéteis.)

quarta-feira, 15 de março de 2023

Poesia

 Pelos que choram


Pelos que choram
Pela fome,
Pelo cansaço,
Pelo medo,
Pelo aço...

           Pelos que choram,
           Pela guerra,
           Pela Vida,
           Pela Terra,
           Por uma saída...

                      Pelos que choram,
                      Pelo velho,
                      Pelo moço,
                      Pelas lágrimas
                      Pelo povo...

                                 Pelos que choram,
                                 Pelo vento
                                 Pelo mar,
                                 Pelo lamento
                                 Ou, talvez, por amar...

                                            Pelos que choram
                                            A cada instante
                                            Por cada glória
                                            De um verso cantado
                                            Por um momento distante
                                            Por estar chorando...


Cláudia Elisabeth Ramos                     

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Dicas Caninas

 


Lexa dando de mamar para seu bebê e para a gatinha Fred.


Nunca esqueça de deixar água fresca para seu cão. 

Eles precisam disso para viver, como nós.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Crônicas

  Série "Crônicas de Guerra"

Traição

            Era noite, mas eu não dormia. Estava num acampamento de nossa tropa. Eu estava bem desperto, mas deitado no chão. De repente, comecei a ouvir passos e vi sombras. Levantei-me lentamente, pegando a minha faca que trazia na cintura e fui em direção do ruído. Chegando lá, constatei ser dois de nossos homens, um branco e um afrodescendente. O afrodescendente era o meu amigo Johnson; o outro era do outro pelotão que se unira a nós, louro e de olhos verdes. Seu nome era Parker. Ameacei a ambos com a faca, sorrindo, só para assustá-los.

Flagrando-se que era eu, Parker sussurrou um palavrão e disse:

Merda, o sargento irlandês louco!

– O que os dois estão fazendo? – perguntei em sussurro, sério, pois não gostara do que Parker falara.

– Apenas vamos urinar, sargento – disse Johnson, dando um sorriso forçado, tentando amenizar aos coisas.

– Vão, mas não se afastem muito. Tomem cuidado.

Ambos pararam a alguns metros de mim e urinaram. E eu esperei. Quando os dois terminaram e retornaram, voltei ao lugar que estava deitado. Deitei-me, mas continuei acordado.

Ouvi Flores resmungar:

– Quero uma cama, por favor.

Ele estava quase ao meu lado. Fiquei tentando dormir, mas estava com insônia. Passou algum tempo, acredito que quase uma hora. Foi então que voltei a ver os dois levantando-se e andando. Isso me deixou desconfiado, principalmente depois do modo que Parker agiu ao me ver. Cutuquei Flores e sussurrei:

– Johnson e Parker estão fazendo algo estranho, mexicano. Vem comigo descobrir o que é – ordenei.

Flores obedeceu meio a contragosto. Levantou-se e nós seguimos Johnson e Parker. Vimos que eles entravam mata adentro e nós fomos atrás mantendo uma distância, escondendo-nos para não sermos vistos. Quando chegamos diante de uma baixada na mata, paramos e olhamos de longe. Iluminados pelo luar, os dois descerem uma trilha e chegarem num acampamento japonês, o qual eu nem sabia da existência dele tão perto. Abismei-me e perguntei pra mim mesmo – sem falar – o que os dois estavam fazendo, eu nunca imaginara que fosse isso. Eles fizeram sinais de luz com uma lanterna antes de se aproximarem do acampamento. Um japonês sinalizou para eles com outra lanterna e eles chegaram aos inimigos. Vi os dois falando com o soldado inimigo em japonês.

– Você sabia que eles falavam japonês? – perguntei sussurrando a Flores.

E ele negou com a cabeça. Eu senti meu coração disparar com aquilo, vendo que se tratava de traição. Sei que tremi, ficando nervoso e tentando entender aqueles dois colegas. Principalmente o Johnson, a quem eu considerava um amigo.

Até que o mexicano sussurrou:

– Não posso crer... Os dois são traidores!

– Eu também não posso – sussurrei.

Eles entraram numa tenda dos japoneses e ficaram por lá um tempo. Nós ficamos nos olhando, sem saber o que fazer.

– O que devemos fazer? – perguntou Flores.

– Eu não sei – disse nervoso. – Se eu chegar dizendo que são traidores para todos, o resto da tropa não acreditará, já que fui eu quem descobriu. Dirão que os dois fizeram algo e que eu estava tramando para matá-los como disseram que fiz com o tenente Wayner.

– Mas eu sou sua testemunha – disse Flores.

– Não contará muito! Somos amigos.

– E se contarmos o que vimos ao coronel? Ele certamente acreditará em nós – sugeriu Flores.

– Isso, você tem razão – concordei, depois lamentei abraçando o meu próprio rosto – Ah, não, logo o Johnson! – como viram pelas narrativas anteriores, Johnson era um dos meus melhores amigos, e também de Flores.

Vimos então os dois saírem da tenda e voltarem à trilha. E nós dois nos afastamos rápido, voltando para onde estávamos acampados. Chegamos antes deles e nos deitamos. Vimo-los passando por nós deitados e olhando a todos, inclusive a nós que fingimos dormir. Não consegui dormir mais e logo amanheceu. Pensava muito em Johnson, dedurar um amigo é muito difícil. Chamei o mexicano e antes que a tropa toda acordasse fui até o coronel, que dormia no chão como todos nós. Cutuquei-o e ele acordou, estranhando ao ver nós dois tão cedo em sua tenda.

– Por favor, senhor, – sussurrei – venha conosco! É importante!

Ele levantou e seguiu-nos, sem perguntar nada. Fomos para mais afastado dos dois e longe donde vimos estarem os japoneses. Contamos tudo o que vimos ao coronel. Ele ficou tão boquiaberto quanto nós.

– Não contei para o resto da tropa, porque acho que não irão acreditar em mim – expliquei afobado.

– É difícil acreditar que os dois sejam traidores, mas... Depois do que eles fizeram – disse Flores nervoso, mas bem mais calmo do que eu.

– Acalmem-se os dois! – disse o coronel. – Tenho uma ideia, mas preciso que vocês dois tenham sangue frio. Quero que vocês ajam com os dois como se nada tivesse acontecido. – E olhou para mim: – Principalmente você, Irving! Sei que Flores vai conseguir, mas você... Eu tenho minhas dúvidas. Você é sangue muito quente – que eu era esquentadinho.

– Eu juro que vou tentar me controlar – disse e ele sorriu.

E todos nós voltamos para junto do restante da tropa.

 

 

Eu passei tenso por outros soldados juntos de Johnson.

– Ei, sargento! – chamou Johnson como antes de eu saber que ele era um traidor, rindo e brincando.

Fui para perto dele, sério, num misto de irritado com triste. Ele começou a dizer besteiras engraçadas para todos que estavam ao redor e eu não prestei a atenção. Só pensava em como ele poderia ser um traidor. Aquilo me doía muito, principalmente porque gostava dele. Ao final, todos riram, menos eu. E ele notou.

– O sargento levantou hoje de mau-humor – disse o soldado Hart.

Não discordei. Apenas gritei, ordenando:

– Peguem suas armas! Vamos! Vamos andar.

Fui estúpido e grosseiro. O coronel passou por mim, segurou-me pelo braço e sussurrou:

– Sangue frio! – e eu entendi que era para eu moderar, mas era muito difícil.

 

 

Quando estávamos perto de um campo, um de nossos aviões cargueiros passou, largando de paraquedas várias caixas que nós sabíamos que eram munições, alimentos e remédios. Preparávamos para ir buscar a carga que caía, quando fomos atacados por japoneses que nos impediram de chegar à carga. Eles é que pegaram. Enquanto nos defendíamos, vimos que assim que eles pegaram a carga, os japoneses nos deixaram.

O coronel Lander aproximou-se de mim, de Flores e do major Welt, o qual deve ter ficado sabendo pelo coronel, e disse:

– Provavelmente foi isso que os dois informaram aos japoneses. Todos nós sabíamos da chegada da carga.

– Sim, – concordei.

– Vieram roubar a nossa munição – disse o major. – Logo ficaremos sem se não conseguirmos pegar outra carga e será fácil o ataque deles.

– Sei o que fazer – disse o coronel, confiante.

Chamou o soldado do rádio e pediu que ele ligasse com o outro pelotão ao sul. Ele logo obedeceu. O coronel foi para um canto isolado com o soldado do rádio, afastado de nós.

 

 

O coronel Lander chegava à tropa e falava:

– Tem um paiol que fica ao sul, a umas duas milhas! Nós iremos até lá. Senão conseguirmos munição, estaremos com grandes problemas... Por hora vamos descansar.

 

 

À noite, eu vi que Johnson e Parker novamente se levantarem pela madrugada. Não falei nada. Depois que eles partiram, o coronel Lander chegou ao meu lado.

– Vamos, contem a eles! – sussurrava para os dois contarem aos japoneses e sorriu para mim, fazendo-me flagrar que fazia parte dos planos dele os dois contarem ao inimigo.

Apenas o olhei sério e voltei a tentar dormir.

 

 

Estávamos andando. Ao invés de seguirmos ao sul, o coronel Lander fez nós irmos a sudeste. Johnson chegou a mim e perguntou:

– Não íamos para o sul?

Eu disse como se nada soubesse:

– Íamos! Mas o coronel deve ter suas razões para mudar a rota.

Ele concordou sacudindo a cabeça, claramente preocupado. E eu controlei a minha ira, de dar-lhe um grande murro.

 

 

Chegamos dentro de uma mata.

– Mande-os espalharem-se em diversos pontos ao redor e irem em silêncio, escondidos – ordenou-me o coronel e eu repassei a ordem. – Mas não mande os dois – referia-se a Johnson e a Parker. – Diga pra ficarem conosco.

Chegamos onde deveria ser o paiol. Ali, realmente havia muitas caixas empilhadas e os japoneses já estavam no local. Nós os víamos do alto, em uma baixada, no meio das árvores, camuflados. Vimos quando foi aberta uma das caixas e não havia nada nela.

– Johnson e Parker – chamou o coronel. Os dois se aproximaram dele e ele ordenou: – Vocês dois! Cheguem lá no meio dos japoneses e digam que eles estão cercados.

– Por que nós? – perguntou Parker, assustado.

– Alguém tem que fazer! – disse o coronel.

– Nós nunca avisamos... Vocês vão ficar à vista? – perguntou Johnson.

– Sim! – E ordenou sério: – Vamos, vão de uma vez!

Eles foram claramente apavorados. Desceram a rampa e foram ficando a vista dos japoneses. Esses não se importaram com eles, provando para todos que eram conhecidos dos inimigos. Um tenente japonês aproximou-se dos dois, sorridente, e curvou-se, uma forma amigável que o povo japonês tem de se cumprimentar.

Johnson falou em inglês agressivo, gesticulando com a cabeça ao japonês outra coisa:

– Vocês estão cercados, rendam-se!

O tenente japonês disse algo em japonês, confuso, sem entender. Parker repetiu o que Johnson dissera, sinalizando a sua volta, e só então o tenente flagrou-se do que acontecia. E a nossa tropa ficou visível.

Do outro lado, a outra de nossa tropa também se tornou visível. Todos apontaram suas armas aos japoneses e a Johnson e Parker. Os japoneses se renderam. O coronel foi direto nos nossos dois colegas apontando seu revólver, com Hart. Hart retirou as armas deles.

– Seus traidores miseráveis – chamou-os o coronel rosnando.

Os dois começaram a falar ao mesmo tempo, que eram inocentes, que não eram traidores, que o coronel tinha cometido um engano. O coronel foi até os dois e arrancou as insígnias deles.

– Vocês desonraram seu próprio país.

E eu e Flores ficamos mirando aos dois com nossos rifles. Meu coração quase saia pela boca já imaginando que ia acontecer com meu amigo. O coronel ordenou cinco de nossos homens para deixarem seus rifles aos pés dele. Eles os fizeram. Retirou as balas de um. Depois misturou os rifles e pediu que os cinco voltassem a pegá-lo. Eles os pegaram. Mesmo sem o coronel dizer, todos entenderam de que se tratava de um fuzilamento. Essa era a pena a quem fosse traidor. Os cinco ficaram logo em fileira diante dos dois, que estavam lado a lado, apavorados.

Eles continuavam dizendo que eram inocentes. Eu abaixei a minha arma e somente fiquei olhando, triste, sufocado. Logo o sargento Ladd disse:

– Preparar, apontar, fogo!

E os dois caíram mortos cobertos pelos tiros. Era estranho o sentimento de ser traído. Eu sentia como se fosse ferido sem o ser. Acho que todo o meu pelotão sentiu isso. Matar um colega que estivera com a gente durante tanto tempo, no treinamento, nos confrontos e na farra foi uma das piores sensações que tive, apesar de não ter dado nenhum tiro contra eles. Talvez por ter sido eu quem descobrira a traição.

E quanto a Johnson, eu não consigo ainda compreender as razões que levaram a traição dele. Isso me sufoca, já que como viram, ele sempre estivera comigo e era meu amigo. Gostaria de reencontrá-lo e perguntar o que passou pela cabeça dele ao cometer aquela traição. Como acredito em reencarnação, quem sabe quando nos cruzarmos nessa ou noutra vida eu possa fazer isso... Espero reconhecê-lo.

E os japoneses foram todos levados como prisioneiros.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023