domingo, 29 de maio de 2022

Egoísta (poesia)


Quase sempre

Não vemos mais ninguém

Só pensamos em nós mesmos

E nada mais além


Voamos para dentro

do ego profundo eu

egoísmo é que dizem

o seu e o meu


Difícil é o próximo ver

passarmos a vida inteira

Só nós mesmos é o que importa

O resto é besteira


Egoístas somos nós

Por mais que se diga não

E por isso estamos sós

em nosso próprio coração.


(Cláudia Elisabeth Ramos)

quinta-feira, 19 de maio de 2022

O livro "Enviados de Blue" de Cláudia Elisabeth Ramos

 



Sinopse

Um planeta azul, assim era Blue. Mas não como a Terra, cheia de água. Ele era azul devido ao seu solo feito de um minério próprio, rico em proteínas e, quando condensado, denso e sólido. O bluepowder, como era chamado o minério, era de fácil manuseio e ótimo para a construção de naves espaciais. A extração do minério foi inevitável. Entretanto, ninguém imaginava que o contato físico dos primeiros mineradores com o bluepowder pudesse acarretar qualquer mutação na estrutura de seus corpos. O resultado criou perseguição e abandono aos primeiros mineradores, enquanto os seguintes passaram a usar trajes especiais para tal. A mineração não podia parar. E assim nasceu os Azuis, povo nativo descendente dos primeiros mineradores. Os Azuis eram fortes, altos (mais de dois metros de altura). Tinham cabelos, pêlos, olhos, sangue, cartilagens (unhas), entre outros órgãos internos, azuis.

A história de Blue se passa em 3569, quando a Terra comemora 500 anos de exploração do planeta. Até então os Azuis são ignorados pelos terráqueos, como se não existissem. Todavia a extração do minério começa a debilitar ao planeta e a toda a vida existente nele, inclusive os Azuis. Surge a Nocolor, uma doença em toda a fauna e flora do planeta, que se resume na falta de bluepowder nos seus organismos. Essa doença é fatal. Se não for parada imediatamente a extração do minério, toda a vida existente no planeta deixará de existir.

Buscando parar a extração, os Azuis enviam o inteligente e ágil tenente Light como seu Representante. A primeira norma a ser obedecida é um contato pacífico. Todavia, a presença do tenente não é bem vista pelo comandante do cargueiro-estelar Félix e nem aceito o pedido de cessar a mineração pelo povo terráqueo. A tentativa de assassinato ao enviado fora o segundo passo. E o resultado é guerra, entre Blue e a Terra, entre terráqueos e azuis. Com isso, terráqueos mineradores terão que enfrentar a sabotagem de Light no cargueiro-estelar e o ataque dos Azuis em Blue e no espaço.





Você encontra o livro "Enviados de Blue" no site:

https://clubedeautores.com.br/livro/enviados-de-blue






domingo, 15 de maio de 2022

Dicas Felinas

 

Amy Winehouse, minha gatinha colorida.


Os gatos se tornam adultos após os três anos de vida, diminuindo assim as brincadeiras deles.



sexta-feira, 6 de maio de 2022

Crônicas

 Série "Crônicas de Guerra"


A Alemã

 

Findara uma batalha onde saímos vitoriosos. Eu andava no campo de batalha  supervisionando se havia ainda algum inimigo em combate. Foi quando Becker chegou a mim e pediu:

– Sargento, por favor, venha ver os prisioneiros dos inimigos. Senhor, há algo estranho entre eles.

Eu fui, sem desconfiar do que seria. Chegando lá, não havia nenhum soldado nosso nem aliado, apenas uma mulher. Ela era linda, branca, esguia, alta, de cabelos negros lisos longos soltos. Os olhos dela eram negros. Porém ela estava maltratada e suja. Vestia uma saia justa e uma camisa social azul claro. Tinha um corpo perfeito, digno de uma miss. Alta, beirava a minha altura. E tinha entre 23 e 25 anos.

– Só havia ela, senhor – disse Becker.

Vi o coronel Lander parando ao meu lado.

– Quem é você? – perguntei a ela.

Ela falou com um sotaque alemão:

– Sou Raquel Weimer. Sou alemã e vim para a Ásia tratar de negócios empresariais.

– Por que foi presa pelos japoneses se é alemã? Os alemães são aliados dos japoneses.

– Eu não sei – disse, mas depois se embaralhou toda, talvez por flagrar-se que nós éramos inimigos tanto dos japoneses quanto dos alemães. – Sou neutra! Apoio aos aliados! Não que eu tenha traído o meu país, mas detesto o que Hitler está fazendo.

O coronel olhou-me e ordenou:

– Leve-a para um dos quartos daquela casa – apontou para uma pequena casa que estava ali próxima. – Tranque-a no quarto e fique junto com ela. Depois irei conversar com ela. – Puxou-me para o lado e sussurrou: – Tenha cuidado e a máxima atenção com ela. Ela pode ser perigosa.

Eu afirmei que havia entendido e fui até ela. Solicitei delicadamente:

– Por favor, venha comigo! – e ela veio.

Enquanto andávamos até a casa, os outros soldados olhavam-na maliciosos. Até Flores e Johnson, que estavam com o Arlen, olharam para mim, sinalizando que eu estava com uma mulher que os fazia babar. Ficavam de boca aberta, fazendo caretas e eu me controlava para não rir. Chegando à pequena casa, passei para o quarto, como o coronel ordenara. Tranquei a porta.

No quarto havia apenas duas camas de solteiro. Tinha uma janela trancada por fora por taboas e pregos. A alemã sentou-se numa das camas e eu fiquei encostado na porta, em prontidão. O coronel demorou muito tempo para vir. Passei toda a manhã naquele lugar e naquela posição, até que o mexicano abriu a porta trazendo dois pratos de comida.

– O coronel Lander mandou para ela comer – disse Flores. – O senhor também pode comer. Vou ficar junto, pois já almocei.

Ela pegou o prato, um que metal, dela e começou a comer sentada na cama. Eu sentei na outra cama e comecei a comer também, enquanto o mexicano ficava na porta em prontidão.

Enquanto ela comia, perguntou para mim:

– Qual o seu nome?

– Irving! – respondi.

– E você? – perguntou para o mexicano.

– Sou Flores! – respondeu.

– Notei que você – apontou a mim – é um sargento e que você – apontou para o mexicano – é um cabo. Negocio muito com militares.

– Militares alemães ou japoneses? – perguntei irônico, falando de nossos inimigos.

Ela empalideceu com a minha pergunta e não respondeu. Continuou a comer, e junto a chorar. Quando terminamos, passei os pratos ao mexicano que saiu dali, deixando-nos sós outra vez. E voltei a minha posição diante a porta.

Quando estávamos sozinhos, ela disse soluçando:

– Não estão sendo justos comigo. Sou uma boa pessoa e ser alemã não significa nada. Muitos dos alemães são contra o governo nazista e eu não sou nazista. Muito antes da guerra a minha família já fazia negócios com a Ásia.

– Então me diga por que foi presa pelos japoneses. Talvez esteja aí a sua inocência.

– Eu não sei – teimou. – Há uma semana recebi uma carta de uma tia da Alemanha e ela disse que toda a minha família foi presa.

– Sabe por quê? – perguntei.

– Na carta ela dizia que todos que tinham origem judaica estavam sendo presos.

– Você tem sangue judaico?

– Tenho!

Ela pela primeira vez me pareceu sincera. Eu também desconhecia sobre a perseguição nazista aos judeus e acho que nenhum de nós sabia disso. Ela desatou a chorar forte e isso me deu pena. Aproximei-me dela e sentei ao seu lado, passei o braço sobre o ombro dela, em consolo. Era uma atitude um tanto arriscada, pois se ela fosse inimiga podia pegar uma de minhas armas e me dominar, ou até mesmo me matar. Entretanto, não foi o que aconteceu.

Quando ela parou de chorar, disse:

– Obrigada por acreditar em mim!

Levantei-me e sentei-me na cama a frente dela, sem medo. Disse:

– Acho você muito inteligente! Fez algum curso superior?

– Sim! Sou Bioquímica com especialização em – acho que era esse o curso, não tenho certeza – Farmacologia.

Eu abismei-me e flagrei-me que ela podia ser muito bem inimiga. O coronel fazia muito bem em ficar desconfiado dela.

– Fala alguma língua a mais, além de Alemão e Inglês?

– Sim, falo ainda chinês, japonês e judaico.

E eu admirei-me mais, pois beirávamos a mesma idade e eu não tinha nem um terço do conhecimento dela.

– A empresa de minha família produz remédios e os vende para vários países, por isso eu tive que aprender tantas línguas – explicou ela. Depois ela ficou um tempo me olhando e disse sorrindo: – Você sabia que é muito bonito?

Preocupei-me com as palavras dela e fiquei desconfiado. Levantei-me e fiquei de pé, diante da porta, em prontidão, como deveria sempre estar e nunca ter saído. Olhei-a sério. Vendo a minha reação, ela disse:

– Não pense mal de mim, só foi um comentário. Desculpe-me. Não vou mais tocar no assunto.

 

 

Eu continuava de prontidão e em silêncio quando chegou o soldado Smith trazendo agora a nossa janta. Peguei meu prato e comi ainda de pé, com Smith ao meu lado. Ela comeu sentada. Comemos sem dizer mais uma palavra. Demos os pratos ao soldado que saiu dali. Eu já estava indignado de ter passado o dia inteiro ali, sem ser substituído. Preferia ficar em confronto a ficar parado do jeito que eu estava.

Foi então que Raquel pediu para mim:

– Sente-se aqui – apontou a cama diante dela. – Não tem porque ficar sempre de pé todo esse tempo.

Como já estava com dor nas pernas, sentei.

– Sou viúva e não tive filhos – disse ela. – Meu marido morreu num acidente de carro. E você, é casado? – e eu não respondi. Ela insistiu: – Já estou cansada de ficar aqui o tempo todo quieta e só quero conversar com alguém.

Então eu respondi:

– Não!

– Por que não é casado?

– A guerra não deixou.

Ela sorriu e disse:

– Ainda há tempo.

Aproximou-se de mim e pegou minhas duas mãos e sorriu. Eu sorri, mas retirei as mãos da dela. Ela recuou, notando o quanto eu estava arredio.

– Só por que eu lhe achei bonito, não precisa ficar desse jeito. Sempre gostei de ruivos e tive dois namorados ruivos. Não sou uma assassina alemã.

Eu fiquei a olhando e não disse nada.

 

 

Era madrugada. Eu estava sentado naquela cama diante a ela, encostado a parede, dormindo. Parece que fui desperto sentindo as mãos dela me massageando os ombros. Ela estava ajoelhada ao meu lado. Temi, ao ver que não estava com o meu rifle. Procurei-o e o vi encostado na parede perto da porta. Meus revólveres também tinham sido tirados de minha cintura, com coldre e tudo, e estavam no chão ao lado do rifle. Tentei afastar-me dela.

– Relaxe! – sussurrou ela. – Coloquei suas armas perto da porta. Não se preocupe. Elas ainda estão lá.

Com a massagem dela, acabei relaxando e deixei-me levar. Pensei que ela pudesse me matar, depois não me importei. Que ela me matasse então. Eu não ligava, queria morrer mesmo. Mas ela não me matou.

Após a massagem, com nós dois no escuro e apenas iluminados pela claridade da lua que vinha de um buraco na parede no alto, ela sussurrou:

– Está melhor?

– Sim.

Foi então que ela pulou, enlaçando-me com as pernas e ficou no meu colo, a minha frente. Fiquei surpreso e ela começou a me beijar nos lábios, segurando meu rosto. E retribui, deixando-me levar.

 

 

Estava deitado no chão, aos pés das camas, nu, com Raquel nua, deitada sobre meu peito. Eu havia transado com ela. A luz do dia já entrava pelo buraco e eu, de repente, fui tomado pela razão. Se o coronel ou alguém me visse e descobrisse que havia transado com uma prisioneira, seria, com certeza, punido. Não tinha ideia do que aconteceria, mas que aconteceria alguma coisa era fato. Acordei-a.

– Vista-se, por favor! – pedi suavemente.

Ela levantou-se e foi vestindo-se. E fiz o mesmo, ligeiro, nervoso e agitado. Quando já estava vestido e armado, parei diante da porta em prontidão, sério.

E ela, após vestir-se, parou a minha frente e sussurrou:

–Tenha calma.

Em seguida beijou-me nos lábios, acariciando o meu rosto e sorriu. Depois se afastou e deitou-se na cama, fingindo dormir. Foi mal ela ter feito isso, a porta foi aberta. Estavam diante da porta o coronel e o soldado Johnson.

– Pegue a prisioneira, Johnson! – ordenou o coronel. – E você – voltou-se a mim – está dispensado, sargento!

Eu ainda olhei Raquel fingindo ser despertada por Johnson. Depois ela seguiu com ele. Saí do quarto, passei pela sala e parei na rua, diante da casa. O coronel saiu e em seguida Johnson e Raquel. Um jipe parou a frente deles, dirigido por outro soldado. O mexicano parou ao meu lado. O coronel, Raquel e Johnson entraram no jipe, dirigido por Hart. Quando estava entrando, Raquel fez uma panorâmica em todo o acampamento até que parou ao ver-me. Deu um leve sorriso e entrou no jipe. Entendi aquilo como uma despedida. Eu nunca mais a veria.

Após a partida do jipe, que acompanhei com o olhar, o mexicano perguntou:

– Como foi ter ficado todo esse tempo com aquela deusa?

Eu apenas sorri, sem contar nada do que acontecera nem a ele nem a ninguém. Ninguém podia saber daquilo.