Desenho feito por Cláudia Elisabeth Ramos no paint.
Quase sempre
Não vemos mais ninguém
Só pensamos em nós mesmos
E nada mais além
Voamos para dentro
do ego profundo eu
egoísmo é que dizem
o seu e o meu
Difícil é o próximo ver
passarmos a vida inteira
Só nós mesmos é o que importa
O resto é besteira
Egoístas somos nós
Por mais que se diga não
E por isso estamos sós
em nosso próprio coração.
(Cláudia Elisabeth Ramos)
Sinopse
Um planeta
azul, assim era Blue. Mas não como a Terra, cheia de água. Ele era azul devido
ao seu solo feito de um minério próprio, rico em proteínas e, quando
condensado, denso e sólido. O bluepowder,
como era chamado o minério, era de fácil manuseio e ótimo para a construção de
naves espaciais. A extração do minério foi inevitável. Entretanto, ninguém
imaginava que o contato físico dos primeiros mineradores com o bluepowder pudesse acarretar qualquer mutação
na estrutura de seus corpos. O resultado criou perseguição e abandono aos
primeiros mineradores, enquanto os seguintes passaram a usar trajes especiais
para tal. A mineração não podia parar. E assim nasceu os Azuis, povo nativo
descendente dos primeiros mineradores. Os Azuis eram fortes, altos (mais de
dois metros de altura). Tinham cabelos, pêlos, olhos, sangue, cartilagens (unhas),
entre outros órgãos internos, azuis.
A história de
Blue se passa em 3569, quando a Terra comemora 500 anos de exploração do
planeta. Até então os Azuis são ignorados pelos terráqueos, como se não
existissem. Todavia a extração do minério começa a debilitar ao planeta e a
toda a vida existente nele, inclusive os Azuis. Surge a Nocolor, uma doença em toda a fauna e flora do planeta, que se
resume na falta de bluepowder nos
seus organismos. Essa doença é fatal. Se não for parada imediatamente a
extração do minério, toda a vida existente no planeta deixará de existir.
Buscando parar
a extração, os Azuis enviam o inteligente e ágil tenente Light como seu Representante.
A primeira norma a ser obedecida é um contato pacífico. Todavia, a presença do
tenente não é bem vista pelo comandante do cargueiro-estelar Félix e nem aceito
o pedido de cessar a mineração pelo povo terráqueo. A tentativa de assassinato
ao enviado fora o segundo passo. E o resultado é guerra, entre Blue e a Terra,
entre terráqueos e azuis. Com isso, terráqueos mineradores terão que enfrentar
a sabotagem de Light no cargueiro-estelar e o ataque dos Azuis em Blue e no
espaço.
Você encontra o livro "Enviados de Blue" no site:
https://clubedeautores.com.br/livro/enviados-de-blue
Série "Crônicas de Guerra"
A Alemã
Findara
uma batalha onde saímos vitoriosos. Eu andava no campo de batalha supervisionando se havia ainda algum inimigo em combate. Foi quando Becker
chegou a mim e pediu:
–
Sargento, por favor, venha ver os prisioneiros dos inimigos. Senhor, há algo
estranho entre eles.
Eu
fui, sem desconfiar do que seria. Chegando lá, não havia nenhum soldado nosso
nem aliado, apenas uma mulher. Ela era linda, branca, esguia, alta, de cabelos
negros lisos longos soltos. Os olhos dela eram negros. Porém ela estava
maltratada e suja. Vestia uma saia justa e uma camisa social azul claro. Tinha
um corpo perfeito, digno de uma miss. Alta, beirava a minha altura. E tinha
entre 23 e 25 anos.
– Só
havia ela, senhor – disse Becker.
Vi o
coronel Lander parando ao meu lado.
–
Quem é você? – perguntei a ela.
Ela
falou com um sotaque alemão:
– Sou
Raquel Weimer. Sou alemã e vim para a Ásia tratar de negócios empresariais.
– Por
que foi presa pelos japoneses se é alemã? Os alemães são aliados dos japoneses.
– Eu
não sei – disse, mas depois se embaralhou toda, talvez por flagrar-se que nós
éramos inimigos tanto dos japoneses quanto dos alemães. – Sou neutra! Apoio aos
aliados! Não que eu tenha traído o meu país, mas detesto o que Hitler está
fazendo.
O
coronel olhou-me e ordenou:
–
Leve-a para um dos quartos daquela casa – apontou para uma pequena casa que
estava ali próxima. – Tranque-a no quarto e fique junto com ela. Depois irei
conversar com ela. – Puxou-me para o lado e sussurrou: – Tenha cuidado e a
máxima atenção com ela. Ela pode ser perigosa.
Eu
afirmei que havia entendido e fui até ela. Solicitei delicadamente:
– Por
favor, venha comigo! – e ela veio.
Enquanto
andávamos até a casa, os outros soldados olhavam-na maliciosos. Até Flores e
Johnson, que estavam com o Arlen, olharam para mim, sinalizando que eu estava
com uma mulher que os fazia babar. Ficavam de boca aberta, fazendo caretas e eu
me controlava para não rir. Chegando à pequena casa, passei para o quarto, como
o coronel ordenara. Tranquei a porta.
No
quarto havia apenas duas camas de solteiro. Tinha uma janela trancada por fora
por taboas e pregos. A alemã sentou-se numa das camas e eu fiquei encostado na
porta, em prontidão. O coronel demorou muito tempo para vir. Passei toda a
manhã naquele lugar e naquela posição, até que o mexicano abriu a porta
trazendo dois pratos de comida.
– O
coronel Lander mandou para ela comer – disse Flores. – O senhor também pode
comer. Vou ficar junto, pois já almocei.
Ela
pegou o prato, um que metal, dela e começou a comer sentada na cama. Eu sentei
na outra cama e comecei a comer também, enquanto o mexicano ficava na porta em
prontidão.
Enquanto
ela comia, perguntou para mim:
–
Qual o seu nome?
–
Irving! – respondi.
– E
você? – perguntou para o mexicano.
– Sou
Flores! – respondeu.
–
Notei que você – apontou a mim – é um sargento e que você – apontou para o
mexicano – é um cabo. Negocio muito com militares.
–
Militares alemães ou japoneses? – perguntei irônico, falando de nossos
inimigos.
Ela
empalideceu com a minha pergunta e não respondeu. Continuou a comer, e junto a
chorar. Quando terminamos, passei os pratos ao mexicano que saiu dali,
deixando-nos sós outra vez. E voltei a minha posição diante a porta.
Quando
estávamos sozinhos, ela disse soluçando:
– Não
estão sendo justos comigo. Sou uma boa pessoa e ser alemã não significa nada.
Muitos dos alemães são contra o governo nazista e eu não sou nazista. Muito
antes da guerra a minha família já fazia negócios com a Ásia.
–
Então me diga por que foi presa pelos japoneses. Talvez esteja aí a sua
inocência.
– Eu
não sei – teimou. – Há uma semana recebi uma carta de uma tia da Alemanha e ela
disse que toda a minha família foi presa.
–
Sabe por quê? – perguntei.
– Na
carta ela dizia que todos que tinham origem judaica estavam sendo presos.
–
Você tem sangue judaico?
–
Tenho!
Ela
pela primeira vez me pareceu sincera. Eu também desconhecia sobre a perseguição
nazista aos judeus e acho que nenhum de nós sabia disso. Ela desatou a chorar
forte e isso me deu pena. Aproximei-me dela e sentei ao seu lado, passei o
braço sobre o ombro dela, em consolo. Era uma atitude um tanto arriscada, pois
se ela fosse inimiga podia pegar uma de minhas armas e me dominar, ou até mesmo
me matar. Entretanto, não foi o que aconteceu.
Quando
ela parou de chorar, disse:
–
Obrigada por acreditar em mim!
Levantei-me
e sentei-me na cama a frente dela, sem medo. Disse:
–
Acho você muito inteligente! Fez algum curso superior?
–
Sim! Sou Bioquímica com especialização em – acho que era esse o curso, não
tenho certeza – Farmacologia.
Eu
abismei-me e flagrei-me que ela podia ser muito bem inimiga. O coronel fazia
muito bem em ficar desconfiado dela.
–
Fala alguma língua a mais, além de Alemão e Inglês?
–
Sim, falo ainda chinês, japonês e judaico.
E eu
admirei-me mais, pois beirávamos a mesma idade e eu não tinha nem um terço do
conhecimento dela.
– A
empresa de minha família produz remédios e os vende para vários países, por
isso eu tive que aprender tantas línguas – explicou ela. Depois ela ficou um
tempo me olhando e disse sorrindo: – Você sabia que é muito bonito?
Preocupei-me
com as palavras dela e fiquei desconfiado. Levantei-me e fiquei de pé, diante
da porta, em prontidão, como deveria sempre estar e nunca ter saído. Olhei-a
sério. Vendo a minha reação, ela disse:
– Não
pense mal de mim, só foi um comentário. Desculpe-me. Não vou mais tocar no
assunto.
Eu
continuava de prontidão e em silêncio quando chegou o soldado Smith trazendo
agora a nossa janta. Peguei meu prato e comi ainda de pé, com Smith ao meu
lado. Ela comeu sentada. Comemos sem dizer mais uma palavra. Demos os pratos ao
soldado que saiu dali. Eu já estava indignado de ter passado o dia inteiro ali,
sem ser substituído. Preferia ficar em confronto a ficar parado do jeito que eu
estava.
Foi
então que Raquel pediu para mim:
–
Sente-se aqui – apontou a cama diante dela. – Não tem porque ficar sempre de pé
todo esse tempo.
Como
já estava com dor nas pernas, sentei.
– Sou
viúva e não tive filhos – disse ela. – Meu marido morreu num acidente de carro.
E você, é casado? – e eu não respondi. Ela insistiu: – Já estou cansada de
ficar aqui o tempo todo quieta e só quero conversar com alguém.
Então
eu respondi:
– Não!
– Por
que não é casado?
– A
guerra não deixou.
Ela
sorriu e disse:
–
Ainda há tempo.
Aproximou-se
de mim e pegou minhas duas mãos e sorriu. Eu sorri, mas retirei as mãos da
dela. Ela recuou, notando o quanto eu estava arredio.
– Só
por que eu lhe achei bonito, não precisa ficar desse jeito. Sempre gostei de
ruivos e tive dois namorados ruivos. Não sou uma assassina alemã.
Eu
fiquei a olhando e não disse nada.
Era
madrugada. Eu estava sentado naquela cama diante a ela, encostado a parede,
dormindo. Parece que fui desperto sentindo as mãos dela me massageando os
ombros. Ela estava ajoelhada ao meu lado. Temi, ao ver que não estava com o meu
rifle. Procurei-o e o vi encostado na parede perto da porta. Meus revólveres
também tinham sido tirados de minha cintura, com coldre e tudo, e estavam no
chão ao lado do rifle. Tentei afastar-me dela.
–
Relaxe! – sussurrou ela. – Coloquei suas armas perto da porta. Não se preocupe.
Elas ainda estão lá.
Com a
massagem dela, acabei relaxando e deixei-me levar. Pensei que ela pudesse me
matar, depois não me importei. Que ela me matasse então. Eu não ligava, queria
morrer mesmo. Mas ela não me matou.
Após
a massagem, com nós dois no escuro e apenas iluminados pela claridade da lua
que vinha de um buraco na parede no alto, ela sussurrou:
–
Está melhor?
–
Sim.
Foi
então que ela pulou, enlaçando-me com as pernas e ficou no meu colo, a minha
frente. Fiquei surpreso e ela começou a me beijar nos lábios, segurando meu
rosto. E retribui, deixando-me levar.
Estava
deitado no chão, aos pés das camas, nu, com Raquel nua, deitada sobre meu
peito. Eu havia transado com ela. A luz do dia já entrava pelo buraco e eu, de
repente, fui tomado pela razão. Se o coronel ou alguém me visse e descobrisse
que havia transado com uma prisioneira, seria, com certeza, punido. Não tinha
ideia do que aconteceria, mas que aconteceria alguma coisa era fato. Acordei-a.
–
Vista-se, por favor! – pedi suavemente.
Ela
levantou-se e foi vestindo-se. E fiz o mesmo, ligeiro, nervoso e agitado.
Quando já estava vestido e armado, parei diante da porta em prontidão, sério.
E
ela, após vestir-se, parou a minha frente e sussurrou:
–Tenha
calma.
Em
seguida beijou-me nos lábios, acariciando o meu rosto e sorriu. Depois se
afastou e deitou-se na cama, fingindo dormir. Foi mal ela ter feito isso, a
porta foi aberta. Estavam diante da porta o coronel e o soldado Johnson.
–
Pegue a prisioneira, Johnson! – ordenou o coronel. – E você – voltou-se a mim –
está dispensado, sargento!
Eu
ainda olhei Raquel fingindo ser despertada por Johnson. Depois ela seguiu com
ele. Saí do quarto, passei pela sala e parei na rua, diante da casa. O coronel
saiu e em seguida Johnson e Raquel. Um jipe parou a frente deles, dirigido por
outro soldado. O mexicano parou ao meu lado. O coronel, Raquel e Johnson
entraram no jipe, dirigido por Hart. Quando estava entrando, Raquel fez uma
panorâmica em todo o acampamento até que parou ao ver-me. Deu um leve sorriso e
entrou no jipe. Entendi aquilo como uma despedida. Eu nunca mais a veria.
Após
a partida do jipe, que acompanhei com o olhar, o mexicano perguntou:
–
Como foi ter ficado todo esse tempo com aquela deusa?
Eu
apenas sorri, sem contar nada do que acontecera nem a ele nem a ninguém.
Ninguém podia saber daquilo.