segunda-feira, 14 de março de 2022

Crônicas

  Série "Crônicas de Guerra"


A Prostituta Japonesa

                          

Estava num cabaré, onde todas as prostitutas eram asiáticas. Praticamente todos os homens que estavam ali eram do exército norte-americano. Eu bebia muito e observava as mulheres. Foi quando eu fixei os olhos numa das prostitutas e vi nela uma japonesa e não como a maioria dali, nativos (Não sei em que país estava. Os nativos eram asiáticos, mas não japoneses. Japoneses eram os inimigos). Não sei dizer o que nela denunciou, mas eu tinha certeza absoluta de que ela era japonesa. Portanto era inimiga.

Tirei o meu revólver da cintura e mirei a arma para a cabeça dela, agarrando-a e prendendo-a contra a parede. Comecei a gritar, ordenando para ela:

– Confesse que é japonesa! – enquanto a empurrava, batendo-a contra a parede.

Ela começou a chorar forte. Todos meus colegas pararam com as brincadeiras, vendo o que eu fazia. Opuseram-se, discutindo comigo, chamando-me de louco, pedindo para eu parar de ameaçar a moça. Alguns colegas meus não conseguiam distinguir os nativos dos japoneses, entretanto eu conseguia. Eu continuei, com certeza absoluta do que falava. E por um triz não atirei na cabeça dela, pois vontade não me faltava.

Aproximou-se de nós então a cafetina, uma senhora asiática muito idosa e pequena (tinha mais de sessenta anos), tentando me fazer parar.

– Por favor, meu jovem, deixe a garota em paz!

Eu olhei para a cafetina e disse, colocando a arma no queixo da garota prostituta:

– Confesse que ela é japonesa se não eu estouro a cabeça dela – ordenei.

Vendo o que eu falava sério e ficando totalmente assustada diante a minha ameaça, a cafetina disse:

– Ela realmente é japonesa! Mas, por favor, não faça nada com ela, solte-a. Ela veio aqui e implorou trabalho – confessou. – Mora a anos aqui.

Todos que estavam ali se calaram, houve um imenso silêncio, dando-me razão. Eu desencostei a arma da garota e a empurrei. O Major Welt se aproximou de nós, olhando para mim, para a garota e para a cafetina.

– Se ela é japonesa, teremos que nos retirar daqui – disse o major. – Soldados americanos não podem ser cliente de japoneses. Eles são nossos inimigos.

A cafetina disse para ele:

– Calma, major! Desse momento em diante, essa mulher não mais trabalha aqui – o major sacudiu a cabeça, concordando. – Deixe seus homens aqui, por favor!

E eu me afastei. Apesar de ter sido rude e violento, sei o que me passava pela cabeça todo o tempo. Aquela mulher podia muito bem ser uma espiã japonesa. Qualquer homem diz muitas coisas na cama. Ela poderia tirar informações secretas de qualquer um de nós e passar para os japoneses. Era por isso que eu havia ficado tão louco. E não tenho certeza que a maioria compreendeu os meus motivos. Mas os oficiais, com certeza entenderam.

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