quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Banquete de Guerra


 
 
 
Banquete de Guerra

              Era 1945, época de guerra mundial. A praia já não tinha tropas, apenas restavam os cadáveres e os feridos, que aguardavam a chegada da Cruz Vermelha. As ondas do mar eram rubras do sangue e dos corpos das vítimas.  Pedaços humanos boiavam. A pouca vida que restava, quase não se movia. Soldados do mundo e da Alemanha, mortos ou moribundos, dividiam o espaço da areia rósea pelo líquido vital.
              A noite era iluminada pelo clarão da lua cheia, que permitia a visão ainda colorida do cruel confronto. Alguns tubarões aproveitavam os restos do mar, atraídos pelos corpos. Porém não eram apenas esses animais os convidados à ceia farta, criaturas da noite circularam o local. Maldade por maldade, que diferença faria. Os culpados da guerra comemoravam. Aquela sobra, não tinha nenhuma importância. E para seres do mal, a vitória fora a guerra em si.
             Vôos rasantes cruzavam o céu em perfeita harmonia, num bailado sublime. Lentamente arrastavam-se várias criaturas, aproximando-se, e deixando uma trilha cavada na praia. Um uivo estremecia os ouvidos dos que ainda ouviam, enquanto calafrios envolviam suas almas. Uma sombra cruzava perante a lua, em gargalhadas tenebrosas. No mar, ondas formavam-se com a vinda de seres estranhos. E muitos outros chegavam.
             Os cadáveres não davam importância, já não sentiam mais as dentadas dos mortos-vivos que cravavam suas bocas em putrefação à procura seus cérebros. O mastigar das mandíbulas caninas do Lobisomem, sobre as vítimas, era perfeito diante do alimento farto. A bruxa pousava e descia de sua vassoura, catando dentes, fios de cabelos, unhas, pedaços de dedos e até olhos humanos para seus rituais satânicos. Os monstros marinhos dividiam a refeição com os tubarões, volta e outra devorando-os também. Já os poucos soldados com vida, viram transformarem-se a sua frente, morcegos em vampiros; que sugaram o restante do sangue de suas veias, acabando de vez com o penar pré-morte.
             No outro dia, chegava a Cruz Vermelha. Já não havia nada para fazer. Restavam agora poucos pedaços a recolher. A guerra é cruel.

 (Cláudia Elisabeth Ramos)

 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário